quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A minha democracia é melhor do que a tua


A vitória de Trump nas recentes eleições americanas, veio retomar a discussão sobre os regimes políticos, sobre a mensagem política e sobre as estratégias de sedução social utilizadas pelos partidos e seus líderes. Faz sentido haver colégio eleitoral ou todos os votos deviam ter o mesmo valor optando por uma eleição totalmente directa? Os eleitores votam em função da mensagem que os candidatos transmitem ou votam por emoções? Qual o valor de informações colaterais (positivas ou negativas) podem ter na escolha do eleito?

Estas perguntas não são usuais após todas as eleições. Elas apenas surgem porque as elites parecem ter sido surpreendidas pelo resultado eleitoral. E esse é um dos problemas da democracia. Se a democracia corresponde às nossas ambições, é um regime político espectacular. Se, pelo contrário, o voto da maioria é diferente do nosso, então, vamos apressar-nos a equacionar o regime político e a reestruturar o sistema político.

A democracia clássica era o governo do povo, onde a maioria escolhia os líderes. Mas a democracia contemporânea, à luz das elites devia ser uma espécie de oligarquia, ou então uma democracia das boas ideias, sendo estas uma escolha dos mais letrados, dos mais viajados ou dos mais mediáticos.


É interessante divagar sobre estes temas porque não sabemos o que vai ser da democracia daqui a 50 anos. Com a evolução tecnológica e a revolução das redes sociais, o mundo está a evoluir mais depressa do que evoluem os conceitos clássicos. Se não pensarmos sobre estes temas, arriscamos-nos a ser vencidos por uma determinada corrente de opinião dos pseudoletrados. 

A vitória de Trump pode ter múltiplas interpretações mas aquilo que sobressai é a forma como um discurso errático, anti-sistema e protecionista conseguiu seduzir milhões de eleitores seja como voto de protesto ou voto de paixão. Como todas as escolhas, a opção eleitoral decorre do passado, do contexto do presente e das expectativas para o futuro. Se Trump deu mais garantias dessas vertentes do que Hilary, é preferível que as elites reflictam sobre os motivos do que especulem sobre as consequências! Criticar Trump é atacar os milhões de eleitores mas não mergulhar nas causas é potenciar novos Trumps e, principalmente, não dinamizar alternativas sólidas e credíveis às Hillarys espalhadas pelo mundo. E, convenhamos, Trump só ganhou porque a alternativa “não era grande espingarda”!

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