terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O futuro da direita portuguesa e os ácaros entranhados no armário

Depois de uma vitória amarga e de uma colossal derrota negocial, a direita portuguesa sofreu um profundo golpe político do qual dificilmente recuperará no curto prazo. E vou explicar porquê:
1-      A direita insiste no discurso da ilegitimidade política, esquecendo que o governo PS com PCP/ PEV/PAN e BE é fruto da legislação, da Constituição e da nomeação Presidencial. Apenas não é legítimo do ponto de vista tradicional e histórico. Mas, se Portugal não é governado em regime de tribo ou anciãos, utilizar o argumento da ilegitimidade é uma perda de tempo e uma afronta à democracia;
2-      A direita continua a achar-se vencedora. Isso originou a ausência de demissões, a manutenção do discurso e a escassez de reflexões para identificar os problemas, os erros ou a eventual mais (ou menos) valia da coligação PAF;
3-      Como se acha vencedora, a direita não admite opiniões contrárias nem divergentes, não aceita sugestões de mudança, não pretende mudar discursos, metodologias nem pessoas;
4-      Os boys da direita (são tantos e com igual qualidade dos boys da esquerda) acreditam que o actual governo vai cair no dia seguinte e continuam a pairar na esfera política, não dando espaço para novas pessoas ou mudanças de estilo;
5-      Marcelo Rebelo de Sousa, potencial próximo Presidente da República não é um liberal e a sua hipotética eleição nem poderá ser aclamada como uma vitória da direita, ou melhor, da direita tal como hoje a conhecemos;
6-      A sociedade portuguesa é tradicionalmente de esquerda – efeitos de uma revolução socialista ainda muito recente e aos receios do papão da ditadura do fascismo. Afrontar a esquerda sem ter propostas, argumentos, politicas ou pensamentos que tenham em consideração as pessoas e não apenas os números, apenas vai dar mais força à coligação de esquerda e à união desta contra o "governo dos números" (recente governo PSD/CDS)


Quando um partido se habitua a ter poder, torna-se numa espécie de adolescente que ganha vícios que são tanto maiores quanta a independência que tem de outras instituições e outras forças políticas para aprovar aquilo que pretende. O PSD e o CDS ganharam esses vícios e não os perderam abruptamente como teria acontecido no caso de uma monumental derrota eleitoral. Assim, arriscam entrar numa demorada fase de definhamento político e de gradual perda dos ácaros até ganharem novamente o ímpeto ganhador daqueles que querem fazer mais, que querem fazer melhor e que estão dispostos a mudar para evoluir. Quanto mais tempo persistirem no definhamento, mais espaço de manobra terá o "governo vermelho" e menos oposição teremos no parlamento.
Ou seja, os cidadãos terão o mesmo problema: uma democracia fraca, sem contraditório construtivo, sem uma alternativa estável e sem esperança no futuro!
Mudam os actores e o encenador mas a trama continua!


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Para ser bom político, não chega ser bom técnico


O pequeno título deste texto tem-se aplicado a inúmeras escolhas políticas que, apesar de aclamadas pelas elites sociais, não passaram de erros de casting. Essas escolhas são comuns em todos os governos mas também na elaboração de listas de deputados, nomeações públicas e tantas outras opções onde foi preterido o feeling político em detrimento unicamente da capacidade técnica, da boa vontade pessoal ou da camaradagem com quem tem o poder de escolha.

Para o cidadão menos atento a estas questões, a inabilidade política seria um mal menor face a outros valores mais nobres da pessoa humana que aparentemente superariam a falta de jeito para a gestão de dossiers políticos. Mas a verdade é que isso não acontece. Alguns políticos menos dotados conseguem passar pela vida política de forma inócua, muitos fingindo-se de adormecidos, hibernados ou até de mortos. Mas outros não têm esses dons e são confrontados com erros de cálculo, incapacidade negocial, falta de liderança, desconhecimento dos mecanismos de gestão, dificuldade de adaptação, inabilidade para discursar e tantos outros constrangimentos que minam a política e fazem aumentar a venda dos tablóides. Obviamente que estes erros de casting são tanto mais graves quanto a responsabilidade que as personalidades assumem. Por vezes, a gravidade afecta apenas o próprio mas em outras ocasiões afecta executivos, partidos, governos ou até o país.
A escolha de personalidades para ocupação de cargos políticos decorre de estratégias políticas mas também pode ocorrer por meros acasos conjunturais. A urgência com que muitas nomeações são decididas não permite analisar os dotes políticos nem a inteligência emocional dos escolhidos. Muitas vezes, nem possibilita que os candidatos sejam “googlados” para perceber o que andaram a dizer e a fazer nas suas vidas.
E não se pense que será a Cresap a tratar este problema político pois nem a entrevista de seleção, nem o teste psicotécnico ou a análise de currículo permitem detectar e rejeitar candidatos desadequados politicamente (atenção que politico é diferente de filiado em partido político).

Este governo também tem esses problemas. Alguns bons técnicos serão pouco mais do que marionetas nas mãos de políticos experientes e jornalistas ávidos de escândalos, erros, incongruências. O grande problema é que a inabilidade política não é um problema de saúde tratável. É uma maleita crónica que pode eventualmente ser minimizada mas também pode arruinar uma caminhada ganhadora.
Aos bons técnicos com aspirações pelo poder, recomendo o estudo destas matérias para se precaverem mas aos decisores públicos desejo que tenham consciência que as escolhas que fazem afectam positiva ou negativamente o país que têm missão de gerir.