quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Os melhores amigos dos homens são...as leis!

A recente polémica sobre a legislação que pretende limitar o número de animais de companhia é mais um sinal que em Portugal se prefere uma boa briga, em alternativa a tentar perceber se uma decisão tem ou não fundamento.

Muitos portugueses encheram páginas em redes sociais a insurgir-se contra a medida por ser limitativa, a seu ver, das liberdades individuais. No entanto poucos se lembraram, nestas criticas, de pensar nos direitos animais ou nos direitos dos vizinhos.

Por exemplo, se eu tiver 5 cães ou 10 gatos num apartamento de 45 metros quadrados, não estarei a colocar em causa a sua (dos animais) própria qualidade de vida? E como será a qualidade de vida dos meus vizinhos?

Uma outra vertente de análise está relacionada com o facto da medida ser ou não oportuna, tendo o país tantas debilidades financeiras e problemas muito mais relevantes para tratar. Mas se o Governo se limitasse a resolver problemas económicos, será que não haveriam também muitas criticas sobre a ausência de outras politicas de interesse público?

Somos o país da critica fácil e dos governos sombra em qualquer café (e mais recentemente em qualquer rede social). E é caso para dizer, utilizando uma expressão popular, que "quem não é preso por ter cão....é preso por não o ter"!


Artigo publicado no dia 30/10/2013 na página da SIC, RR e Expresso: http://parlamentoglobal.sapo.pt/


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Cidades "independentes" são cidades esquecidas?

Todas as eleições são momentos de regeneração. Regeneram-se os eleitos e regeneram-se os votantes. Estas eleições autárquicas foram, para além disso, momentos de regeneração politica que trará consequências a médio prazo. Vou cingir-me a dois concelhos nesta minha breve análise: Porto e Portalegre

O Porto já nos habituou a surpresas. Com a vitória de Rui Moreira (independente apoiado pelo CDS-PP e pelo anterior presidente da câmara), tivemos mais um sinal sobre as motivações para o voto dos portuenses. Se há quem diga que Rui Moreira beneficiou com o voto útil motivado por sondagens que o colocavam empatado ao PS, a verdade é que a votação foi muito expressiva e relegou Luis Filipe Menezes. ex-lider do PSD para um terceiro lugar. A posição do anterior presidente da câmara, Rui Rio, contribuiu também para essa orientação do voto popular.

O outro caso é o de Portalegre, onde uma candidatura independente saída da órbita do PSD conquistou a autarquia com maioria absoluta, beneficiando de estratégias erradas dos adversários e de uma mensagem de vitimização (pessoal e política, aparentemente demagógica) que não foi refutada em tempo útil e foi muito bem acolhida pela população.

Mas, independentemente dos motivos que levaram ao voto em candidaturas independentes, o que importa é que os eleitos sejam bem sucedidos na implementação dos seus programas e das suas estratégias na dinamização dos concelhos.
Em qualquer dos casos (Porto e Portalegre) haverá consequências directas e indirectas para os cidadãos, para as cidades e para os partidos de onde as candidaturas supostamente independentes saíram.

Se, no caso do Porto, a dimensão da cidade e a capacidade de intervenção dos eleitos  é suficiente para manter a voz politica no panorama nacional, em Portalegre isso pode não acontecer por ser uma das capitais de distrito mais pequenas do país.
O efeito dimensão vai ser extremamente relevante para a afirmação dos executivos e para a recomposição de elencos partidários afectados pelo terramoto provocado pelos dissidentes. As cidades maiores lideradas por independentes terão o seu espaço de intervenção eventualmente aumentado. Já as cidades pequenas têm de se adaptar e encontrar formas de reacção ao mais do que esperado e crescente esquecimento por parte do poder central e dos partidos que renegaram.


É uma inevitabilidade do mediatismo politico nacional. É necessário estar alerta para este risco de forma a desenvolver estratégias que minimizem os impactos negativos e perversos das "cidades independentes", principalmente das cidades de pequena dimensão.


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O incendiário

A entrevista de José Sócrates ao Jornal Expresso é o espelho da sua governação como Primeiro Ministro.
Sócrates lutou contra tudo e contra todos. Contra os partidos opositores, contra as instituições internacionais, contra as mais altas figuras do Estado e inclusive contra membros do seu próprio partido. José Sócrates demonstra na entrevista que se considera uma personalidade superior, dotado de uma sapiência que o afasta dos meros mortais.
Trata-se de um artigo que li com a amargura de sentir que se tratava de tempo perdido. Sócrates fala do passado, do seu passado que confunde com o passado do seu país e utiliza uma linguagem brejeira que não o dignifica!
Não refere uma única ideia para Portugal nem defende nenhum argumento construtivo. Mas critica tudo e todos, sem se mostrar minimamente arrependido sobre as politicas que seguiu nos seus governos.

A sua entrevista é uma espécie de fogo com várias frentes activas e onde muitos poucos se escapam de ficarem chamuscados.
Sócrates mostra que é um governante dos tempos modernos, rico em oratória mas pobre em conteúdo. Foi um corredor de curtas distâncias e de meio fundo do atletismo político português. E neste momento está em estágio na actividade de comentador para regressar em plena forma às maratonas que se avizinham!

Será ele o cabeça de lista do PS às eleições europeias numa tentativa de ser eleito presidente do Parlamento Europeu, coisa que Mário Soares não conseguiu? Ou estará mais interessado em suceder a Cavaco Silva, disputando as eleições presidenciais com M. Rebelo de Sousa, R. Rio ou, eventualmente, inclusive com António Costa??

Quais são as apostas?

Tenham medo....o enfant terrible está de regresso e mais enraivecido do que nunca!!!


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Prémio Nobel e uma bonita idea de Bob Shiller

Venceram o Nobel da Economia este ano Eugene Fama, Lars Hansen e Bob Shiller. Uma escolha surpreendente a meu ver, não porque cada um destes economistas não mereça o prémio (pelo contrário), mas antes pela atribuição conjunta, para premiar trabalhos diferentes em método e em espírito.
 
Mas não pretendia discutir as razões da atribuição do prémio. Em vez, queria aproveitar a oportunidade para discutir uma das ideias mais interessantes de Bob Shiller, um economista cheio de ideias originais e de enorme alcance prático.
 
Shiller propôs que os governos deveriam emitir dívida indexada ao valor nominal do PIB. Este novo título do tesouro possuiria uma característica extremamente desejável: o dividendo seria elevado em periodos em que o crescimento do PIB nominal fosse elevado, e em vez reduzido em periodos de recessão!
 
Uma ideia genial! Reparem que se a divída do Estado estivesse indexada ao valor do PIB, a crise do euro teria provavelmente sido evitada!
 
É uma ideia muito simples, mas extremamente poderosa. Um contributo simples para "completar os mercados" e, consequentemente, melhorar o funcionamento da economia. Que pena, que estas ideias mais elegantes e poderosas sejam tantas vezes ignoradas, por serem menos convencionais... Espero que este Nobel contribua para promover esta bonita ideia! 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Politica = 80% Imagem + 20% Mensagem

A sociedade actual é vulgarmente apelidada de sociedade da informação. Qualquer pessoa que necessite de saber mais sobre um assunto, facilmente recorre a jornais, televisão ou internet para obter os esclarecimentos que necessita. No entanto, e em paralelo, há pouca disponibilidade ou mesmo interesse para obter mais informação sobre assuntos de interesse comum como politica e economia.

Este é um problema dos meios de comunicação que explicam mal os assuntos que analisam mas também dos partidos políticos que passaram a ser 80% marketing e 20% mensagem.

Esta opção da imagem em detrimento dos valores foi uma consequência dos hábitos dos cidadãos, mais interessados em mensagens visuais apelativas do que em argumentos irrefutáveis.

Um dos exemplos mais comuns sobre este assunto é a enorme falta de informação na sociedade sobre o programa de ajustamento, quais os problemas que o motivaram, quais as alternativas e consequências se não fosse cumprido.

Muitos dos cidadãos não sabem o que são os mercados nem percebem porque temos de nos sujeitar a medidas de contenção orçamental. Esse desconhecimento não origina uma pesquisa do próprio para se informar sobre os temas e acaba por gerar uma critica pouco esclarecida, falaciosa e inconsequente.

Ainda assim, os políticos continuam a utilizar chavões desconhecidos e a falar num "politiquês" cada vez mais distante da linguagem dos seus concidadãos.

A politica necessita ser explicada para ser compreendida. Isto significa que não bastam meia dúzia de palavras caras e falar no "bicho papão" que são os mercados para justificar uma qualquer medida. Da mesma forma, é claramente insuficiente refutar toda e qualquer medida do governo como alternativa politica sem referir qual seria a consequência dessa decisão suicida.



Artigo também publicado dia 10/10/2013 no blog "OPINIÃO" da página da SIC, Expresso e RR, www.parlamentoglobal.pt