quinta-feira, 23 de maio de 2013

Quem controla uma coligação?


O poder e as formas de o controlar nem sempre são discutidos em função do número de votos. Embora a principal força politica do Governo seja o PSD, isso não implica que seja esse partido a controlar a coligação governativa.

Isso acontece porque todas as decisões podem ser vetadas pelo CDS. Basta ao CDS ameaçar com a demissão dos seus membros para causar o pânico e obrigar o PSD a rever as suas decisões. Aliás, o CDS terá muito menos a perder do que o PSD com essa ruptura politica, colocando o partido de Paulo Portas numa posição menos desconfortável.
Mas para além desse difícil equilíbrio de poder, o CDS tem ainda necessidade de preparar a sua saída do Governo, seja no termo da legislatura ou prematuramente no decurso de uma demissão. Essa preparação tem passado por um distanciamento do PSD em alguns assuntos e numa aproximação ao PS nas criticas ao próprio Governo a que pertence.
Quando há rumores de uma suposta demissão do Governo, como aconteceu à cerca de uma semana, temos de considerar que isso pode ter sido uma possibilidade efectiva como pode não ter passado de um extremar de posição para perceber quais os limites do parceiro de Governo.

Os portugueses teriam muito mais a ganhar se esta discussão politica ocorresse de forma confidencial e não fosse transposta para a comunicação social. Mas nem sempre a estabilidade politica é um valor mais forte do que a sobrevivência politica ou do que a captura do poder.
A maior força politica pode não ser a líder do Governo. Tudo depende da capacidade de liderança mas sobretudo depende dos interesses de cada partido em cada momento da coligação.


terça-feira, 14 de maio de 2013

E Responsabilidade?*


Convenhamos: assacar responsabilidades não é exactamente aquilo que fazemos melhor. Somos muito bons no improviso, na hospitalidade ou na organização de eventos internacionais, mas apurar responsáveis não é connosco. Por isso, não se estranhe o meu cepticismo quanto à comissão de inquérito aos contratos de alto risco em empresas públicas. Descrença que a história reforça. O regime jurídico dos inquéritos parlamentares data de Março de 1993. Tem, portanto, 20 anos, durante os quais se constituíram 39 comissões – só para Camarate foram 10 –, cujos relatórios finais apenas em 4 casos foram considerados pelo sistema judicial; e, mesmo nesses, sem resultados. 
Embora não acreditando que a quadragésima iniciativa vá entrar para o rol das excepções, sou favorável à sua constituição. Estão em causa perdas potenciais de 3000 milhões de euros, decorrentes de contratos especulativos, que, ao invés do que é suposto um swap fazer, aumentaram o risco com derivados em que a taxa de juro do empréstimo dependia de factores ad hoc. Por isso, creio que é importante levar os gestores das empresas públicas em causa à Assembleia da República. Sabermos quem são; percebermos se agiram desta forma por incompetência, por gosto em brincar aos mercados financeiros com dinheiro alheio ou por contrapartidas; e averiguarmos que grau de cobertura receberam dos seus superiores, nomeadamente, das tutelas financeira e sectorial. 

Estas são as questões que gostaria de ver escalpelizadas. De resto, adivinho um relatório difícil de aprovar, onde, como habitualmente, se concluirá que todos são responsáveis, ao mesmo tempo que ninguém o é (por via das dúvidas, já se exoneraram dois Secretários de Estado). Não estou a contar que a culpa morra casada. Mas gostaria de vê-la ficar noiva.


* Artigo publicado no Diário Económico de hoje

Da colecção Sugestões de Leitura

Noah Smith é um jovem economista cheio de ideias originais e pertinentes na blogosfera. Achei este seu último post muito interessante.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Less pain yesterday, less pain today, less pain tomorrow...

"Large multipliers do not necessarily affect the optimal timing of fiscal consolidation, however. If they remain just as large in the future, the adjustment will be as painful later. But, if they are larger now than later, this tilts the adjustment toward doing more later: Less pain now, less pain later. And there are at least three reasons to believe that multipliers are larger now."

Leia-se todo o artigo de Olivier Blanchard (chief economist do IMF) e Daniel Leigh aqui neste link

É por isso que adiar a austeridade teria sido provavelmente a solução óptima. O problema, é que há vários constrangimentos que às vezes impedem o implementar da solução óptima, entre os quais, a miopia dos ciclos económico-políticos, que torna pouco credível compromissos políticos de médio prazo.

Talvez uma maior cooperação entre os dois principais partidos em Portugal, tivesse permitido adiar a austeridade, sem ser para as calendas gregas ("pun intended"). Mas o debate não se fez em 2010. Far-se á em 2013? Os ciclos políticos são uma chatice de gerir... 

Nunca é tarde demais para negociar!

Partilho o link para um artigo meu publicado em 02/05/2013 no espaço opinião do Parlamento Global:




Nunca é tarde demais para negociar!

por Nuno Vaz da Silva, em 02.05.13




parlamentoglobal