quarta-feira, 27 de março de 2013

Desafio autárquico: fazer mais com menos



2013 é ano de eleições autárquicas. Se à primeira vista poderíamos ser levados a pensar que são mais umas eleições, numa análise mais pormenorizada concluiremos que está muito mais em jogo neste ciclo autárquico.
Estas eleições serão disputadas no meio do turbilhão da crise, com diminuição acentuada do rendimento disponível de famílias, empresas  e instituições. A escassez de recursos será um constrangimento para os mandatos autárquicos e obrigará à renovação da própria função autárquica.
Se durante décadas o desejo dos autarcas foi fazer e deixar obra, para o mandato que se avizinha o desafio será mais complexo e menos quantificável em obras de betão. As rotundas, as estradas e os estádios terão de dar lugar a uma actuação de parceria com empresários, associações e comunidades.

A falta de recursos não pode servir de desculpa para uma actuação menos conseguida, muito pelo contrário. Com os efeitos da crise, exige-se que as instituições façam mais com menos. A dinamização do tecido económico existente e o apoio à instalação de novas empresas deve ser um dos principais objectivos políticos. Em localidades onde existem zonas industriais e comerciais em déficit de ocupação, será também a oportunidade para revitalizar os investimentos já feitos e aproveitar as mais valias da existência de redes comerciais e empresariais.
Mas também será necessário fazer mais com menos na relação com os eleitores, através da diminuição da burocracia e da aposta na eficiência dos serviços públicos.

A existência, durante vários anos, de programas eleitorais partidários tão desfasados das actuações politico-governativas tem afastado os cidadãos da politica. Mas nesta fase em que ninguém está alheio das dificuldades financeiras assumo a minha expectativa em ler os programas eleitorais autárquicos dos diversos partidos e verificar a criatividade e capacidade das várias candidaturas para resolverem os problemas de sempre com menos recursos mas com mais exigências!

O poder autárquico não só tem de se reinventar como deve ser o exemplo de uma actuação politica mais credível e eficiente.


Nuno Vaz da Silva
Economista




artigo publicado na edição de 27/03/2013 do jornal "Alto Alentejo" e no blog Deseconomias


segunda-feira, 25 de março de 2013

One Man Show - a moda do comentário politico a solo

Deixo aqui o link para um artigo da minha autoria publicado em 25-03-2013 na página Parlamento Global denominado "One Man Show - a moda do comentário politico a solo"


Troika e Chipre, um bail-out (in) com elementos positivos.

O novo acordo alcançado entre a troika e o Chipre é uma boa notícia e a meu ver inclui vários aspetos positivos. 

Primeiro, houve uma mudança de rumo, e todos os depósitos inferiores a 100,000 euro são protegidos. Isto é muito importante para a estabilidade do sector bancário da zona euro. 

Segundo, o banco Laiki que era o banco em piores lençois e que tinha efectuado piores investimentos não será salvo. Em vez, os ativos tóxicos são concentrados nesse banco e os credores do Laiki assumem as perdas resultantes, exceptuando aqueles credores com pequenas poupanças (os tais depósitos inferiores a 100,000 euro) que vêm as suas poupanças garantidas e transferidas para outro banco. É importante que os grandes credores sofram perdas, pois efectuaram maus investimentos. Este Bail-In é o aspeto fundamental do acordo e pode ser um elemento importante da nova doutrina de regulamentação do sector financeiro. 

Terceiro, a estabilidade do sistema financeiro cipriota e a execução do plano prevê a introdução de controlo de capitais. É uma boa notícia a introdução destas medidas no Toolkit da Troika, pois em situações extraordinárias, é importante garantir que excessivos fluxos de capitais não contribuam para agravar a situação económica da maior parte da população, que não têm culpa nenhuma dos excessos cometidos pelo sector financeiro durante anos. 

sábado, 23 de março de 2013

Neuroeconomia #4


O “efeito chamariz” (decoy effect) sugere a existência de um elemento que é assimetricamente dominado por outro. Este efeito está presente, por exemplo, em estratégias de marketing que induzem o consumidor a uma determinada escolha.
Um dos exemplos que melhor ilustra este efeito é o da escolha de uma subscrição de uma determinada revista. Se a revista oferecer uma subscrição digital pelo período de um ano por um preço de 42€, e outra subscrição pelo mesmo período de tempo mas impressa e por um preço de 87€, a decisão de escolha será difícil pois não temos uma referência que nos permita comparar estas duas hipóteses. No entanto, se introduzirmos uma terceira opção em que se oferece uma subscrição impressa e digital pelo preço de 87€ isso fará com que, com grande probabilidade, todas as pessoas escolham esta opção, pois serão induzidas a pensar que esta é melhor que a opção em que, pelo mesmo valor, só têm acesso à revista impressa. Assim sendo, assumem que desta forma passam a ter as revistas digitais a custo zero, o que faz com que esta opção se torne melhor que a opção de ter as revistas apenas em suporte digital por um preço inferior.
A introdução de uma opção que é assimetricamente dominada por outra, neste caso a edição impressa é assimetricamente dominada pela edição impressa e digital, faz com que os consumidores, na sua maioria, optem por esta opção em detrimento de todas as outras. Este resultado deriva da possibilidade de compararmos relativamente duas opções. A comparação relativa é pois a chave-mestra que nos permite escolher.
Podemos aplicar este conceito a todas as áreas da nossa vida que implicam uma decisão de escolha e, ao tomarmos consciência da sua existência, podemos mais facilmente entender como as nossas mentes são manipuladas. Porém, a tomada de consciência não evita que sejamos alvo deste efeito, até porque ele existe precisamente pela incapacidade que temos em tomar decisões de escolha absolutas.

E se em vez de análise política orquestrada tivéssemos aulas de empreendedorismo em horário nobre?

Caros amigos,
Façam-me um favor, leiam os currículos académicos (inacabados) e profissionais (com experiência insuficiente para os cargos desempenhados) de Passos Coelho, Relvas, Seguro e Sócrates*. Limitem-se a estes quatro, não quero que fiquem afogados no “mar de demagogia” e incompetência de mais líderes políticos.
*pedido ou não pelo sr. Relvas como técnica de sfumato, espero que o sr. Sócrates nos ofereça um boião cultural de Camus, Kierkegaard ou Wittgenstein e, evite comentários de administração pública ou economia.
Depois de ler os currículos das excelências citadas, quero que esqueçam qualquer humildade ou insegurança e comecem a criar as vossas empresas! Ou, candidatem-se a órgãos públicos, nas vossas autarquias ou, se estiver ao vosso alcance, no executivo central!
Tomem conta deste país porque tenho a certeza que são mais competentes que os nossos líderes, larguem os sofás, as pantufas, os empregos cómodos!
O país precisa de telejornais com notícias sobre a abertura de empresas, novo software,  patentes registadas, os casos de êxito nas exportaçoes, os resultados de investigação dos cientistas portugueses. Estamos fartos da agenda televisiva de verborreia demagógica do governo e da oposição.
Os meios de comunicação devem divulgar exemplos de negócio, ideias e projectos a seguir! No âmbito cultural, agrícola, industrial, científico, etc... o que importa é lavar o cérebro dos portugueses com os bons exemplos a imitar.
Não se exige a qualidade da BBC, apenas algumas aulas de empreendedorismo em horário nobre.
E para contribuir um pouco à divulgação de casos de sucesso em Portugal, fica uma pequena lista, de empresas grandes e pequenas, mais ou menos conhecidas, para abrir o apetite a futuras aventuras!!!
1.     http://www.facebook.com/idealandco – con destaque na edição de Março da revista Monocle, esta empresa apresenta fantásticas peças de pele aliadas ao saber fazer dos artesãos do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros
2.     http://www.flylondon.com/ - nascida em 1994, continua a destacar-se na área do calçado e em 2013 foi considerada “FASHION FOOTWEAR brand of the Year”
3.     http://www.petratex.com/ - “Deixou de se confundir com outras fábricas de confeções quando inventou uma técnica que roubou as costuras às peças de vestuário. Hoje, a Petratex é reconhecida internacionalmente, depois de ter participado na criação de fatos de natação que batem todos os recordes” – ver publicação original na revista UP http://upmagazine-tap.com/pt_artigos/petratex-a-fabrica-dos-sonhos/
4.     http://www.portucelsoporcel.com/en/index.html - aqui falamos de uma das grandes empresas portuguesas, mas centremo-nos num dos seus productos e de como é a 1ª referência a nível mundial: http://www.navigator-paper.com/  
5.     Leica em Portugal – a melhor máquina fotográfica é fabricada desde 1973 na fábrica de Famalicão. Saiu mais uma notícia nos últimos dias acerca deste bom exemplo de gestão:
6. http://gestamp.com/ – esta empresa espanhola, referência na indústria automóvel global, fez uma aposta de sucesso em três fábricas em Portugal (Vila Nova de Cerveira, Aveiro e Vendas Novas).

quinta-feira, 21 de março de 2013

De Chipre, nem bons ventos, nem boas medidas


Com a crise das dividas soberanas surgiu uma nova ordem económica mundial liderada pela troika. As medidas de recuperação dos países são definidas exogenamente por uma entidade supra nacional que dita o ritmo das medidas.

As épocas de crise são óptimas para se fazerem experiências. Testa-se num país a diminuição da TSU, testa-se num outro o aumento do IVA ou mesmo a taxação dos depósitos. Mas as experiências devem ser acompanhadas de bom senso, calo politico e limites!

Se a especificidade dos países exige que sejam definidos diferentes cocktails de politicas de retoma, podemos questionar se os efeitos sistémicos das medidas estão a ser tidos em conta nos modelos econométricos. Taxar os depósitos num país, ainda que seja um pequeno país, vai criar receios fundados de que possa vir suceder o mesmo em outros países de maiores dimensões.

E mesmo que se volte mais tarde com a palavra atrás, o mal já está feito! Os efeitos sistémicos do anúncio da medida ficarão por alguns anos e a retoma será mais difícil e demorada! .....um disparate!


sexta-feira, 8 de março de 2013

Sugestão de Leitura

Um artigo interessante sobre o reajustamento da economia Portuguesa. Alguns sinais positivos, mas muitos riscos e incerteza... 

quinta-feira, 7 de março de 2013

Eu já tenho o curso de socorrista! E tu?

As boas noticias devem ser partilhadas mas as boas politicas têm de ser louvadas. Se nos currículos académicos há espaço para matérias por vezes desnecessárias, então faz todo o sentido que este assunto de maior importância cívica seja tratado e divulgado até à exaustão.
Acima de todo o conhecimento estão as vidas humanas. A responsabilidade social é um valor em si mas é principalmente uma forma de lutar contra o individualismo crescente que está a alterar a forma de vivência das sociedades contemporâneas.
Por isso, faz todo o sentido que os conhecimentos de suporte básico de vida sejam partilhados com os alunos do 3º ciclo. Um dia, todos os portugueses terão esses conhecimentos e a nossa sociedade ficará mais humana e mais instruída.

Eu já fiz o curso de socorrista! E tu? O que esperas para o fazer?


sexta-feira, 1 de março de 2013

E Depois do Adeus*


Diz a sabedoria popular que não há duas sem três. Portanto, depois das intervenções em 78-79 e 83-85, já se esperava que o FMI cá tivesse de vir novamente. A sabedoria popular não fala numa quarta vez e espera-se que, de facto, haja sapiência para evitá-lo.
Independentemente de ser dado ou não mais um ano para ajustar o défice, o primeiro-ministro tem afirmado que está na altura de se pensar nas soluções de médio e longo prazo. Com o FMI, a Comissão Europeia e o BCE o compromisso é o de cortar permanentemente a despesa em quatro mil milhões de euros; aos quais se deve juntar o montante das medidas temporárias adoptadas durante o programa de assistência. Conhecido o valor, importa saber quais serão as áreas visadas e as medidas concretas que se pretendem tomar.
Pensar nas soluções de médio e longo prazo não se esgota, contudo, em fazer as contas da consolidação orçamental. O pedido de ajuda externa foi motivado por uma crise financeira, mas a economia portuguesa padece de problemas estruturais. Depois de ter tido a intervenção da ‘troika', o País precisa de uma perestroika que lhe permita ser competitivo. Competitivo num mundo que está a sofrer alterações profundas, fruto da globalização, do surgimento de novas potências, da evolução tecnológica e da velocidade cada vez maior a que esta se processa, das novas tendências demográficas e do problema energético.
Um plano para depois do adeus (da ‘troika') deve lidar explicitamente com estas questões. Deve ajudar-nos a saber quem somos e o que fazemos aqui. Deve ajudar-nos a, na nova ordem económica mundial que se desenha, ganhar e não perder.


* Artigo publicado no Diário Económico de 28.02.2013

Desemprego e Austeridade a qualquer custo?


Este é o gráfico do último relatório do Eurostat sobre o desemprego na Europa e que está a circular nos vários Blogs de economistas que se preocupam com estas coisas. O que é enfurecedor, é o enorme custo das políticas de austeridade adoptadas por quase todos os países da UE. É que em 2009, parecia que o desemprego tinha atingido um pico, e que a partir de aí, iniciaria a diminuir. Isto foi o que aconteceu por exemplo nos EUA, e é assim que os ciclos económicos normalmente se comportam. Mas na UE fomos atacados pela obsessão da Austeridade a qualquer custo, e o resultado foi um enorme acelerar do desemprego em 2011 e 2012. E o custo social e político será enorme... vejam as eleições na Itália. A questão que se impõe é a seguinte, não teria sido mais sensato insistir na Austeridade em 2006, num período de vacas gordas? E agora, não seria melhor adiar a Austeridade para quando a situação económica seja mais favorável, como a teoria económica sensatamente recomenda...? Só que, aqui chegados, têm que ser a Europa em conjunto a tomar esta decisão, porque sozinhos já não é possível.