quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Qual o valor do seu voto em Portalegre?

As eleições autárquicas são sempre dos mais disputados actos eleitorais. Não só os candidatos são mais próximos das populações do que em outras eleições, como as propostas que defendem afectam o quotidiano dos eleitores. Desde o saneamento público, à limpeza dos caminhos, passando pela manutenção dos espaços verdes, as propostas serão muitas (nestas e em outras áreas), variadas e certamente para todos os gostos.

Os actuais executivos deveriam ser avaliados: Cumpriram o programa eleitoral que os levou a vencer as eleições anteriores ou concorrem sucessivamente com as mesmas propostas não cumpridas, esquecendo a sua concretização após o acto eleitoral? Conseguiram inverter a fuga de população e o fecho de empresas ou, pelo contrário, essa foi uma constante dos últimos 4 anos? Seria importante para as populações locais que as recandidaturas esclarecessem o que não foi realizado e os motivos que o impediram.
Mas as eleições autárquicas são, regra geral, mais do que propostas, projectos ou objectivos estratégicos. Há quem escrutine o candidato pela aparência, pela presença em festas ou pela simpatia, preterindo muitas vezes de valores bem mais relevantes como a idoneidade,  a competência e a capacidade de decisão. Estes são os factores que me parecem fulcrais para a qualidade da representatividade dos mandatos autárquicos a favor dos cidadãos.

Independentemente das motivações para votar, não podemos esquecer que se tratam de eleições que vão eleger os representantes das populações nas autarquias locais nos próximos 4 anos. Votar não deve ser um acto de ocasião pouco reflectido.
Felizmente o voto é secreto e isso permite que todos os cidadãos exerçam o seu direito nas mesas respectivas e que o façam em consciência, elegendo o que consideram ser o melhor candidato para representar a sua terra tendo em consideração o seu projecto e a fiabilidade para o executar.
As eleições autárquicas devem  fomentar a discussão entre diferentes ideias para um mesmo concelho e suas freguesias. O melhor voto é aquele que for alheio ao ruido criado como forma de estratégia eleitoral. E, num cenário de crise em Portugal e na Europa, o melhor voto será também para o candidato mais credível que apostar nos recursos endógenos da sua terra para dinamizar a realidade socioeconómica dos seus concidadãos.


Independentemente do vencedor, esperemos que os próximos 4 anos possam representar uma nova etapa para Portalegre e para o orgulho dos portalegrenses! As freguesias, a cidade e o Alto Alentejo bem precisam de uma capital de Distrito dinâmica para enfrentar os desafios do futuro!


domingo, 15 de setembro de 2013

Neuroeconomia #6

A propósito de manipulação todos tendemos a comentar: "Eu não sou manipulador!", "Eu não gosto de ser manipulado!". Na realidade cada um de nós, sem excepção, acaba por ser manipulador e por se deixar manipular.
A manipulação surge nas nossas vidas como uma força motriz que nos conduz. A melhor forma de lidar com a manipulação é reconhece-la como garantida e saber geri-la com paciência e sabedoria. Um dos exemplos mais gritantes está presente na publicidade que invade diariamente as nossas casas. Grupos de pessoas estudam os nossos comportamentos ao nível do consumo, com vista a manipularem as nossas decisões no acto de compra. Esses grupos investigam as nossas fragilidades para obterem uma chave de acesso ao nosso perfil de consumo.
É assustador, mas ao mesmo tempo genial, como todo este processo de manipulação nos envolve e quão difícil é libertarmo-nos dele. Ainda mais interessante é o facto de cada um de nós achar que não se deixa enganar pela publicidade e que decide de forma consciente o que quer ou não perante uma determinada escolha. Somos manipuláveis, mas somos assustadoramente previsíveis quanto à tendência mesquinha de querermos condicionar o mundo à nossa volta, revelando os nossos próprios ímpetos de manipulação alheia.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

"Portugal Europeu. E Agora?"

Decorre esta sexta-feira e sábado, o encontro Presente no Futuro organizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos sob o tema “Portugal Europeu. E Agora?” Este encontro vai incluir diversas sessões, conferências, debates e conversas informais sobre o nosso papel na Europa e os desafios que temos pela frente.

A adesão de Portugal à União Europeia trouxe um conjunto de benefícios e custos que raramente são discutidos em simultâneo. No seio das forças politicas, há uma parte do espectro partidário que evoca os prejuízos e outra parte que evidencia os benefícios, como forma de cativar os seus eleitorados. Mas não tem havido um debate isento sobre o que perdemos e o que ganhamos em ser cidadãos da europa dentro de uma união europeia.

Mais do que debater sobre o passado, importa pensar o futuro. Como poderá Portugal comportar-se face aos seus pares e qual o impacto da construção europeia na cultura, oportunidades e na qualidade de vida dos portugueses?

Numa sociedade em que os cidadãos se queixam de serem cada vez mais alheios à decisão dos políticos e das instituições públicas, este debate assume-se como um polo de discussão, partilha de ideias e projecção daquilo que o futuro nos reserva. O comum cidadão pode ser agente activo na discussão sobre os assuntos mais críticos para a nossa vida em sociedade.

Não sendo um think tank, este encontro reúne um conjunto alargado de especialistas nacionais e internacionais e serão debatidas questões económicas, sociais, culturais, filosóficas e politicas.

O futuro é algo incerto para os cidadãos mas poderá ser mais nítido e mais próximo das necessidades de todos se a participação dos portugueses for também mais activa e mais crítica! O encontro da Fundação Francisco Manuel dos Santos “Portugal Europeu. E Agora?” será certamente um bom exemplo de intervenção e participação cívica dos portugueses, como povo europeu!


Artigo de Nuno Vaz da Silva publicado em 12/09/2013 na coluna de opinião do site Parlamento Global


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Candidaturas (in)dependentes

A lei eleitoral autárquica portuguesa (lei orgânica nº1/2001) possibilita que movimentos independentes concorram directamente a órgãos das autarquias locais. Isto significa que o Estado concede aos cidadãos a possibilidade de se proporem a eleições e serem eleitos sem intervenção partidária. A lei, fortemente debatida na Assembleia tinha como objectivo aumentar a democraticidade e a participação de cidadãos que não eram filiados em partidos políticos.

Não é fácil apurar se esta lei aumentou a participação popular (a abstenção nacional em eleições autárquicas tem-se situado perto dos 40%) mas é indesmentível que há maior número de listas em alguns círculos eleitorais.

A legislação tem sido também aproveitada por militantes partidários descontentes ou não eleitos dentro do seu partido, bem como para tentativas de re-eleição de autarcas cujos partidos de base lhes retiraram o apoio e/ou a confiança.

Salvo algumas excepções, as candidaturas (in)dependentes são composta por grande número de políticos que recusaram ou foram recusados nas eleições primárias dos seus partidos e que, ainda assim, procuram manter o seu status quo.

O fenómeno dos candidatos in(dependentes) é perfeitamente legitimo embora nem sempre seja  moral nem ético para os próprios que concorrem. É expectável que um cidadão, quando se inscreve num partido, o faça por se identificar com os valores, as propostas e as linhas orientadoras seguidas. Se esse mesmo cidadão sai do partido devido ao seu interesse pessoal ou (pior ainda) se mantém no partido concorrendo em listas da oposição, não só revela incoerência politica como admite tacitamente que só esteve no partido enquanto obteve benefícios próprios.

Sempre que uma candidatura é composta na sua totalidade de independentes que nunca concorreram em eleições e/ou que nunca pertenceram a forças politicas, confirma-se que a lei cumpriu o objectivo do legislador. Por outro lado, quando é apenas uma ferramenta de argumentação demagógica ou uma estratégia de eleição contra corrente, então a lei foi apenas aproveitada numa espécie de vazio legal da lei, omissa face a políticos de carreira ou "militantes-duplos".

As candidaturas independentes nem sempre o são. Algumas (apesar de o repudiarem constantemente) serão mais dependentes da politica e dos interesses negativos da politica do que muitas candidaturas partidárias.

Todas as candidaturas autárquicas são candidaturas politicas. A diferença entre elas são as pessoas, os líderes, os projectos e a capacidade de implementação. Já os cartazes, as fotos, as aparições públicas e o número de likes no facebook (só para citar alguns exemplos) são diversões da politica à la portugaise que até pode servir para ganhar eleições mas não tem conteúdo nem sustentabilidade para os eleitores nem para as autarquias a que concorrem.




Este artigo foi publicado no espaço "Opinião" do Parlamento Global, no dia 3/9/2013. Nuno Vaz da Silva é colaborador regular deste espaço de debate e partilha de opiniões.