quarta-feira, 30 de maio de 2012

A taxa de câmbio não é uma varinha mágica.

Eis porque é que eu acho um disparate recomendar a saída da Grécia da zona euro:

"Issues of labour productivity, fiscal legitimacy, and financial responsibility, could never be solved by the re-adoption and devaluation of a local currency. Devaluations serve to keep the current show on the road by temporarily devaluing local wages and savings against those overseas. Just before joining the euro, Greece devalued the drachma versus the deutschmark by 14%, the last in a long string of devaluations, but that competitive boost, like those before it, did not last."

O texto integral de Avinash Persaud está neste link e é muito lúcido. Nesta grande recessão aprendemos a mal que a "fada mágica da confiança" não existe. Mas do mesmo modo que não acredito em fadas, também sei que a taxa de câmbio não é uma varinha mágica.

Paulo S Monteiro
(comentários bem vindos)

O que ganhámos com a Troika?

Desde 2011 que os portugueses têm sofrido as consequências das medidas de austeridade que foram tomadas na sequência do acordo com a Troika. Em época de contenção orçamental é habitual criticar as politicas impostas e os efeitos das mesmas para os contribuintes. Sabemos perfeitamente o que perdemos com a entrada da Troika no nosso país! Mas saberão os portugueses o que ganharam com a troika?
O recurso à Troika, constituída pelo Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, foi uma solução de fim de linha. Só pede ajuda externa (e aceita a imposição de condições do exterior) quem já não tem hipóteses para resolver sozinho os seus problemas. Portugal pediu ajuda porque precisava de dinheiro com urgência. Esse dinheiro tinha como objectivo pagar salários, pensões, subsídios e ainda liquidar dividas aos credores, que anteriormente já nos tinham emprestado verbas para gastos e/ou investimentos. Sem a Troika, os portugueses teriam ficado sem receber estes rendimentos e os nossos credores ficariam impossibilitados de recuperar o capital financiado, o que geraria uma enorme crise de expectativas e o inevitável fim do crédito externo.
Com a ajuda internacional, pudemos continuar a receber salários, pensões e subsídios e continuámos a ser um país que respeita os compromissos assumidos ao liquidar as dívidas perante os investidores. Mas, além destas vantagens de índole financeira, Portugal ganhou também uma maior eficiência na gestão das contas públicas, sem contemplações para interesses partidários e/ou de grupos de interesse. O apoio da Troika tornou possível a identificação de lacunas e erros na organização do Estado, na gestão de entidades e empresas públicas, autarquias e regiões autónomas, evitando (pelo menos para o futuro) gastos que seriam ainda mais gravosos se continuassem a ser feitos.  
É verdade que as medidas impostas pela Troika são bastante difíceis para todos e podemos até discutir se, em função das especificidades do nosso país, são ou não as mais adequadas. Mas quando falamos dos prejuízos que a Troika nos trouxe, não podemos deixar de imaginar como seria viver num país em bancarrota (ou seja, sem pagar salários, pensões ou subsídios e que não teria mais dinheiro do exterior por não cumprir as responsabilidades assumidas com os credores). Se nenhuma medida de ajustamento tivesse sido tomada, continuaríamos a ser um país com problemas de gestão pública, despesismo não contabilizado e com muitas outras ineficiências por resolver.
Não se trata de apoiar as medidas de um ou outro partido. Aliás, as três principais forças politicas concordam com o plano de ajustamento que está em curso! Trata-se de optar pela solvabilidade sob condições ou pela bancarrota sem misericórdia! E ninguém se iluda porque só seria possível renegociar dividas se ambas as partes (devedor e credores) estivessem de acordo com as condições da renegociação. Mesmo os que defendem o crescimento a qualquer custo, não se devem esquecer que o crescimento sem rigor, é insustentável e perverso no médio prazo!
É relativamente simples e populista afirmar que o plano de ajustamento é mau, que podíamos ter optado por outro caminho ou que as condições impostas são demasiado rígidas. Mas ao fazer isso, devemos indicar qual seria esse caminho e de que forma poderíamos ter uma melhor solução para os problemas do país.
Aos políticos exige-se que apresentem argumentos verdadeiros e que não tentem angariar votos pela demagogia simplista de identificar apenas os prós ou os contras de uma política! Da comunicação social espera-se isenção perante as soluções dos problemas e a explicação dos pontos positivos e negativos das decisões tomadas pelos políticos! Só assim poderemos ser uma sociedade mais evoluída e melhor esclarecida!

Nuno Vaz da Silva
Economista


Artigo publicado na edição de 30/05/2012 do Jornal Alto Alentejo e também publicado no blog Deseconomias


quinta-feira, 24 de maio de 2012

5 dicas para desenvolver Portugal!


É indesmentível que a evolução da economia portuguesa está dependente dos acontecimentos económicos do exterior. Conseguirá a Espanha superar os problemas que enfrenta? Como será a Eurozona sem a Grécia? O relacionamento entre França e Alemanha criará uma nova Europa, mais sólida ou agudizará os conflitos existentes?
Mas, ao mesmo tempo que fora das nossas fronteiras se escreve parte do nosso futuro, há um sem número de actividades que podemos e devemos implementar cá dentro:

- Em primeiro lugar temos de cumprir os compromissos assumidos. Sejam bons ou maus, a verdade é que concordámos com eles e não podemos agora dizer que estávamos a brincar ou que não pensámos bem no assunto quando os assumimos (principalmente no que diz respeito às politicas não conjunturais).

- Em segundo lugar, necessitamos de criar um modelo de sociedade que seja sustentável. Necessitamos de uma estratégia de desenvolvimento mais do que uma vontade de crescer a qualquer custo, criando bases sociais e económicas que nos permitam suportar ciclos económicos desfavoráveis no futuro;

- Em terceiro lugar é imprescindível reflectir sobre o papel do Estado na Sociedade. Deve o Estado ter uma mão invisível na sociedade, uma mão visível, ou pura e simplesmente tirar a mão da economia e deixá-la surfar pelos mercados (desculpem a analogia económica mas penso que se percebe onde pretendo chegar). Este ponto é fulcral para mudar o paradigma da nossa sociedade, eliminar barreiras e cargos desnecessários e apoiar os empreendedores!

- Em quarto lugar, terá de haver uma crescente responsabilização dos titulares de órgãos públicos, criando incentivos negativos para a corrupção e colocando limites temporais para o exercício de cargos políticos, sindicais e associativos.

- Em último lugar, mas não menos importante do que os pontos anteriores, a justiça tem de passar a ser justa (passe-se a redundância), equilibrada, simples e indiferente a classes sociais e económicas. Só com uma sociedade justa podemos sentir-nos mais integrados e participarmos civicamente sem complexos na construção do país!


São 5 pontos mas podiam ser dezenas de politicas que não dependem dos mercados externos! O importante é fomentar a discussão do país que somos e da sociedade que poderíamos ser. Não somos perfeitos, temos muitos defeitos! Mas temos mais aspectos positivos do que factores negativos. Só assim se explica que sejamos um país com 900 anos de história mas que nunca tira os olhos do futuro!

homens (com ‘h’ pequeno)


Tal como no ano passado um relatório da OCDE sobre os indicadores da qualidade de vida destaca a grande desigualdade entre homens e mulheres em Portugal no que diz respeito à partilha das tarefas domésticas! Os homens em Portugal dedicam 96 minutos por dia a estas tarefas, menos do que a média da OCDE de 131 minutos, e menos de um terço do que as mulheres portuguesas que passam 328 minutos por dia em trabalhos domésticos. Ao seja, por cá os homens não limpam, não cozinham, não fazem a cama, não cuidam das crianças... são uns inúteis! A dimensão desta desigualdade é bem ilustrada na figura que incluo (também obtida do mesmo relatório da OCDE). A figura mostra as horas por dia que são dedicadas ao lazer pelos homens e pelas mulheres nos vários países da OCDE. A maior assimetria entre sexos é a que se verifica em Portugal... ao seja enquanto elas tratam da casa, eles coçam-se no sofá e não fazem nenhum!

Assim não pode ser...! Para dinamizar Portugal, os homens (com ‘h’ pequeno) vão ter que dinamizar-se e começar a utilizar os tachos! Para dinamizar Portugal, os homens (com ‘h’ pequeno) vão ter que começar a utilizar a máquina de lavar! Para dinamizar Portugal, os homens (com ‘h’ pequeno) vão ter que começar a utilizar o aspirador!

É provável que combater estas desigualdades tenha um impacto sobre o bem estar das famílias portuguesas e implique benefícios económicos bem mais importantes do que os produzidos pelas várias reformas estruturais sempre apontadas como essenciais. E esta reforma não requer legislação nem controvérsias parlamentares. Esta começa em casa... basta que eles se levantem do sofá...

Paulo S Monteiro
(comentários bem vindos)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O (ir)realismo de esquerda...

Louçã, Soares e outros querem rasgar o acordo com a troika. Justificam isso com a ideia de que austeridade e crescimento são duas coisas incompatíveis.
Este tipo de conversa faz lembrar criacionistas versus evolucionistas nos Estado Unidos. Os primeiros escolhem num conjunto de dados e factoides e reinterpretam de forma a confirmar a sua visão do mundo. Os segundos investigam e analisam os dados e depois chegam a uma visão do mundo. Dá para ver bem a diferença!
Na cabeça desta esquerda anti-capitalista e anti-liberal estão os seguintes pressupostos: i) Os portugueses querem o fim das políticas da troika – confirmando o seu sentimento de “wishful-thinking” que os portugueses se estão a rebelar contra a troika e o governo; ii) O Estado pode substituir-se aos mercados para um resultado mais eficiente – confirmando a sua visão totalitarista do Estado como o garante de bem-estar – podendo-se assim substituir a austeridade pelo crescimento económico.
O primeiro ponto é fácil de rebater. Manifestações e greves cada vez com menos adesão e as sondagens que têm sido feitas mostram três tendências claras (veja-se a última da Eurosondagem): 1) Os partidos “da troika” ganhariam as eleições com mais de 77% dos votos; 2) Os partidos “anti-troika” teriam menos de 15%; 3) O Governo perde apoio por parte da população, mas a política geral (troika) ganha.
Estas três tendências, confirmadas sondagem após sondagem, são uma clara indicação que esta esquerda tem pouca noção do país. Dá a impressão que veem o que querem ver e ignoram todos os outros dados.
O segundo ponto é mais complexo. Antes de mais é preciso perceber que a necessidade da substituição do mercado pelo Estado é uma falsa questão, como também o é o antagonismo austeridade/crescimento.
É verdade que investimento do Estado (vamos assumir por instantes que o Estado nunca cria elefantes brancos) pode reduzir desemprego. Um apoio às indústrias preferidas de um governo aumenta os níveis de emprego, no curto-prazo. Isto parece confirmar a visão do mundo de Louçã e Soares. O problema é que se o Estado apoia indústrias que não se estão a aguentar nesta crise sozinhas está a apostar num cavalo doente. É insustentável e um desperdício do dinheiro do contribuinte. Pior, normalmente essas intervenções do Estado criam a possibilidade para corrupção e situações de crescimento económico e empregabilidade fictícios, escondendo as verdadeiras falhas estruturais até que uma nova crise obrigue a um esforço ainda maior de correção.
A austeridade é (ou deve ser) traduzida numa redução da dimensão do Estado na economia. Isto mitiga questões de crowding-out, desocupando-se a economia para os privados, e possibilita a descida futura dos impostos. Este espaço libertado dá latitude aos privados (todos nós) para se mexerem e inovarem em novas indústrias, as quais permitem o verdadeiro crescimento económico e redução do desemprego... sustentável. Não é a austeridade que faz a economia crescer. É a austeridade que viabiliza as condições de longo-prazo que permitem a iniciativa privada, a criação de emprego e o crescimento económico sustentável.
A realidade torna a opinião de Louçã, Soares ou mesmo do Syriza na Grécia, irrelevante. O Mundo simplesmente não funciona como eles gostariam... e na minha modesta opinião, ainda bem!


domingo, 20 de maio de 2012

Que futuro para a UME?


No passado dia 16 de Maio decorreu mais um Fim de Tarde na Ordem com o professor Fernando Teixeira dos Santos. O tema da apresentação e debate centrou-se na convergência e crescimento na União Monetária Europeia (UME).
Enumeraram-se algumas razões para o estado deficitário em que a UME se encontra, nomeadamente, a ausência de instrumentos de política comum, a importância do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) em detrimento das políticas económicas, e ainda a ausência de reformas estruturais que ficaram dependentes da vontade e empenho de cada estado-membro. Entenda-se aqui que o principal objectivo do PEC é coordenar a disciplina orçamental para evitar a instabilidade dos preços.

O professor Fernando Teixeira dos Santos abordou a actual situação económica como resultado de não ter havido um esforço de convergência comunitária em termos de políticas económicas comuns, o que aliado às crescentes assimetrias entre os estados-membros fez com que os mercados financeiros deixassem de ter confiança na recuperação económica da UME. Ainda assim, importa realçar que os mercados financeiros também são co-responsáveis pela actual situação, uma vez que não diferenciaram o risco e foram demasiado permissivos em termos de financiamento, recorde-se o exemplo do subprime.

A dívida, e o consequente default (situação de incumprimento), é a questão central que marca as agendas políticas da actualidade, mas devemos esclarecer que o agravamento da dívida privada foi mais significativo que o agravamento da dívida pública. A descida acentuada das taxas de juro, associada à convergência para a moeda única, levou a uma diminuição da taxa de poupança nacional e ao aumento do endividamento.
O professor Fernando Teixeira dos Santos apresentou-nos um cenário de sustentabilidade futura em que o aumento do rácio da dívida pública em percentagem do PIB seria de 115 em 2013, descendo a partir daí até atingir 80 em 2030.

Quando se fala em sustentabilidade futura em termos económicos temos de considerar quatro pilares de intervenção: o quadro orçamental, o custo do financiamento, o crescimento económico e os factores contingentes.

O fluxograma de retoma económica começa com o ajustamento orçamental, que deverá estar associado ao crescimento económico e à solidez e estabilidade dos sistemas financeiros. Estas premissas irão devolver confiança aos mercados, que promovem assim condições de financiamento com vista à recuperação financeira. Só assim poderemos ter sustentabilidade no sistema bancário e financiamento, através da desalavancagem e do reforço dos rácios de capital.

O cenário tem sido negro, com o aumento do crédito de cobrança duvidosa e a quebra de output, com consequências no agravamento do desemprego e perda de bem-estar. O potencial de crescimento das economias é positivo para as cinco economias mais fortes, mas negativo para todas as outras, o que a par da quebra significativa na taxa de investimento vem reforçar o desemprego estrutural que não pára de aumentar. Podemos assim identificar como único sinal positivo a redução significativa do défice externo devido ao acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O ajustamento orçamental e estrutural tem elevados custos sociais, mas é necessário. O professor Fernando Teixeira dos Santos reforça a ideia que a prevenção do risco tem de ter enfoque no crescimento económico. Não estamos perante uma escolha entre austeridade e crescimento, pois precisamos de ambos para assegurar a sustentabilidade económica. Não podemos estar dependentes da procura interna para fomentar o crescimento, mas sim dinamizar a procura externa, ou seja, uma estratégia de crescimento ao nível da Europa e dando sinal aos mercados que temos instrumentos de política comum.

A UME não quer ser uma união de transferências, mas para isso tem de reforçar a convergência, reduzir as assimetrias e prevenir crises que exijam recurso a essas mesmas transferências. Exige-se uma governação económica num quadro de estabilidade financeira; reformas em áreas estruturantes como o reforço das redes de energia, as telecomunicações e os transportes; um sistema comunitário de supervisão e apoio às instituições financeiras; e porque não os eurobonds (partilha de risco)?
A médio e longo prazo faz sentido adoptar estas medidas, mas no curto prazo as transferências são mesmo necessárias para resolver as situações mais críticas.

Esta análise e a sua aplicabilidade pretendem transmitir um sinal de confiança para os cidadãos, economia e mercados financeiros, que será o motor de arranque para uma nova Europa de crescimento e sustentabilidade económica.

Blackmail: governantes disfarçados de democratas e um jornal pouco PUBLICO

A polémica este fim de semana tem sido ao redor das ameaças de Miguel Relvas, Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, a uma das jornalistas do jornal Publico, Maria José Oliveira, que tem acompanhado o caso das secretas – polémica esta que tem suscitado grande debate publico na blogosfera.

Muitos dos comentadores têm-se referido a’ atitude condenável do Sr. Ministro, referindo que esta foi no mínimo um atentado a democracia e liberdade de opinião. A grande maioria dos leitores tem manifestado a sua indignação com a atitude pouco correcta do referido Sr., referindo que uma pessoa com tão poucos ou nenhuns escrúpulos não devera nem poderá governar um pais (aparentemente democrata?). Sou, certamente, obrigada a concordar com estes leitores, pelo conjunto de razoes obvias: violação de um direito básico da democracia, manipulação dos orgaos de comunicação social; desrespeito pelo jornal, pela jornalista e, acima de tudo, pelos próprios Portugueses, etc, etc, etc.

Mas, parecem existir duas cartas fora do baralho.

A primeira, refere-se a’ reacção do próprio jornal Publico. Como ‘e que se justifica que o jornal venha reagir ao sucedido, dizendo este respeito a uma das suas editoras, somente depois da estoria ter sido comunicada e debatida com tamanho fervor noutros jornais e sítios da internet? Porque ‘e que o Publico decide que este caso foi uma excepção a’ regra de não divulgação das pressões nos jornais? O Conselho de Redacção do Publico publica um comunicado justificativo de que a decisão de não publicar a noticia foi única e exclusivamente do jornal e nada teve a ver com os telefonemas do Sr. Ministro. Então como ‘e que o Publico justifica os telefonemas que recebeu do Sr. Ministro uma vez que afirma não ter nada palpável para publicar?

A outra prende-se com a posição tomada pelo Sr. Ministro. Porque ‘e que, não havendo “matéria publicável” como refere o Publico, o Sr. Ministro resolve chantagear a dita jornalista com a publicação de informação da vida privada da mesma? Como não acredito que aquele terá telefonado para desejar um bom dias aos jornalistas do Publico, sou levada a crer que a jornalista apurou alguma informação que o Sr. Ministro achou ‘pouco pertinente’ ser publica. Onde ‘e que o Sr. Ministro obteve a sigilosa informação sobre a vida da jornalista e de que forma ‘e que essa mesma informação poderia ser prejudicial a’ jornalista caso fosse publicada? E que parte de uma governação democrata ‘e que este Sr. não entendeu?

Então, afinal de contas em que ficamos? O ‘Publico’ esta ou não esta ofendido, tomou ou não tomou uma posição? Ou será que esta a jogar com um pau de dois bicos? 1) a direcção do Publico ofendida, acusa o Sr. Ministro de ter ameaçado uma das suas jornalistas, ao mesmo tempo que o desculpa dizendo que o mesmo já apresentou um pedido de desculpas ao jornal -- portanto, esta tudo bem, continuamos amigos como dantes?; 2) o Publico que, aparentemente, tinha algo ‘menos apropriado’ para publicar, e’ ameaçado e não publica por falta de ‘matéria publicável’. Então em que ficamos? Governantes disfarçados de democratas (?) e um jornal ‘PUBLICO’ (?) muito pouco publico.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Desemprego em Portugal dispara oficialmente para recorde de 14,9% e o desemprego real deve aproximar-se dos 22%.

No final de Março, existiam mais de 819 mil desempregados oficiais em Portugal. A taxa de desemprego em Portugal subiu para 14,9% no primeiro trimestre de 2012, um novo máximo histórico, que traduz um aumento de 2,5 pontos percentuais face ao trimestre homólogo. Foi a subida trimestral mais acentuada de que há memória, reflexo da recessão económica provocada pelas medidas de austeridade que estão a ser aplicadas no país, em troca de um resgate de 78 mil milhões de euros. Does it pay off?

O INE explica-nos que para este resultado contribuíram, fundamentalmente, seis situações:

  1. "a diminuição de 130,6 mil empregados do sexo masculino, que explicou 64,2% da variação ocorrida no emprego total;
  2. a diminuição de 135,8 mil empregados dos 15 aos 34 anos, que explicou 66,7% da variação ocorrida no emprego total;
  3. a diminuição de 276,1 mil empregados com nível de escolaridade completo correspondente, no máximo, ao 3º ciclo do ensino básico;
  4. a diminuição de 102,1 mil empregados no sector dos serviços e de 91,0 mil empregados no sector da indústria, construção, energia e água;
  5. a diminuição de 152,1 mil trabalhadores por conta de outrem, dos quais 106,5 mil tinham um contrato de trabalho com termo;
  6. e por último a diminuição de 204,4 mil trabalhadores a tempo completo.”
 Ao nível geográfico, a taxa de desemprego aumentou em todas as regiões. O Algarve é de longe a região mais fustigada pelo desemprego, com 20% da população activa a encontrar-se fora do mercado de trabalho no primeiro trimestre. Seguem-se Lisboa, Alentejo e Madeira, com a taxa de desemprego a aumentar para 16,5%, 15,4% e 16,1%, respectivamente.

Nas suas previsões mais recentes, o Governo apontou para uma taxa de 14,5% em 2012. No entanto, está a ser feita uma revisão dos métodos de previsão e deverão ser apresentadas novas projeções no início do próximo mês.

Recordo saudosista quando era UW de Credit Life e as taxas rondavam os 6%.Os números que o INE apresentou são absolutamente dramáticos, sendo piores do que as piores previsões.

Estes números colocam em causa a sustentabilidade da Segurança Social, nomeadamente na atribuição dos apoios sociais. “Os números […] conhecidos estão em linha com um conjunto de percepções do Governo mas o Governo já disse muito claramente que em conjugação com o Ministério das Finanças, o Ministério da Economia e o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social estão neste momento a fazer uma análise mais aprofundada destes mesmos números. Agora, para nós, o que é fundamental é realçar que a protecção social existe sempre e ela tem que existir nomeadamente de uma forma mais acrescida, em tempos de maiores dificuldades”.

Convém destacar que se torna iminente um real esforço do Governo no sentido de estimular a criação de emprego e dar uma resposta efectiva ao acordo de concertação social com os parceiros sociais que é muito importante e que permitirá que se possa acumular em parte com o subsidio de desemprego com rendimentos de trabalho, garantindo verdadeiramente que é mais fácil para as empresas contratar mas, acima de tudo, que é mais fácil colocarmos no mercado de trabalho muitas pessoas que hoje estão a receber subsidio de desemprego.

terça-feira, 15 de maio de 2012

“No sofá com o lóbi” – 5 anos depois, com o lóbi e não só!


Em 23 de Junho de 2007, a revista ÚNICA do jornal Expresso, trazia um curioso artigo denominado No sofá com o lóbi que guardei pela pertinência do tema. Nessa reportagem do jornalista Micael Pereira (e fotografia de José Ventura), foram desvendadas algumas ligações de políticos a empresas públicas, empresas privadas e fundações. As ligações traduziam-se em cargos de Consultadoria, Administração e Presidência de Assembleias Gerais, e ficava no ar a dúvida sobre qual o real interesse das empresas e Fundações na contratação de elementos ligados à política. Tratavam-se de contratações de indivíduos com experiência reconhecida e cujo currículo representava por si uma mais-valia para as instituições em causa? Ou tratava-se de pura actividade de lóbi, em que os próprios políticos são os lobistas, numa pouco ética (e eventualmente paradoxal mas não ilícita) actividade dupla de representação dos cidadãos eleitores em paralelo com a defesa dos interesses das sociedades onde desempenhavam as mais variadas actividades?

Este é um assunto delicado, que envolve muitos interesses e que poucos arriscam abordar. Se hoje temos a discussão sobre as alegadas relações próximas de alguns políticos com os serviços secretos, existirão também relações com empresas, associações e fundações. Dirão alguns que o único caminho para a resolução desta “problemática” será a exclusividade do desempenho de funções políticas, dirão outros que isso pouco resolve porque as relações próximas sempre existirão.

Não havendo uma solução óptima, um caminho possível seria a publicação das declarações de interesses dos políticos mas também dos jornalistas, dos juízes e de tantas outras profissões em que as decisões tomadas possam interferir em políticas, na manipulação da opinião pública e no interesse privado dos cidadãos.

A actividade de lóbi não é um exclusivo português, embora haja factores que nos diferenciam. Tanto nos Estados Unidos como junto das Instituições Europeias existem lobistas, muitos deles publicamente assumidos e que desempenham essa reconhecida profissão liberal. No entanto, e tomando por base o mesmo artigo que cito no inicio do meu texto, o lobista liberal não tem condições para se estabelecer em Portugal, pois, para além de não existir regulamentação, não consegue competir em influência com quem está dentro do meio politico!


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Big brother is watching you - e tu é que pagas!


O processo jurídico que envolve escutas telefónicas supostamente ilegais, efectuadas em Portugal a determinados indivíduos, parece ter alguma semelhança com o escândalo das escutas telefónicas da News Corporation no Reino Unido. Em ambas as situações estão envolvidos espiões, empresas de comunicação social e alegados actos ilícitos. Mas aqui ficam as “subtis” diferenças:
No Reino Unido, um jornal contratou alegadamente serviços privados para espiar figuras públicas com objectivo de obter ganhos económicos com publicações sobre as suas vidas;
Em Portugal, um grupo económico recorreu alegadamente aos serviços de informação da República (públicos), subornando os seus funcionários pagos pelos impostos dos contribuintes de forma a obter informações sobre esses mesmos contribuintes.
Não quero acreditar que a história tenha ocorrido desta forma, mas a ser verdade, os ingleses têm muito a aprender com os nossos métodos de obter informação privilegiada! James Bond pode ser Britânico mas para quê ir ao padre se temos via aberta para tratar o assunto com o Papa?
Passando a provocação, quem espia os espiões?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ter um pingo de decência…

Li o editorial de Pedro Santos Guerreiro, "Anatomia de Um Golpe". Andava a ser partilhado por imensas pessoas no Facebook. Quando o li fiquei admirado com a forma e conteúdo deste.

Corrijam-me se estiver errado, mas:

1. Tanto quanto se sabe não houve negociação com os produtores acerca desta promoção. Por acaso no dia 1 de Maio estive com algumas pessoas do lado dos produtores e nenhum deles teve conhecimento prévio desta promoção, nem tão pouco houve compras com descontos forçados ao produtor.

2. Margens de 100% existem na distribuição. Só quem nunca trabalhou no meio ou não vai regularmente ao supermercado é que não sabe disso. 

3. Para concorrência desleal é preciso um acto continuado e não uma promoção esporádica e o Pedro Santos Guerreiro devia saber disso. 
Onde está o descontentamento destes comentadores nos descontos de 75% do Continente, que ainda por cima são regulares e muito mais passíveis de distorcer a concorrência do mercado… Qualquer aluno do segundo ano de economia sabe que para abuso de posição dominante é preciso: A - Ter uma posição dominante; B - Actos continuados e sustentados. 
Um acto de isolado venda a margens negativas (que não é o mesmo que dumping) não é abuso de nada. Também se tem vindo a assumir que o Pingo Doce vendeu a margens negativas. Eu não acredito nisso. Um bom artigo de ler e também já bastante partilhado no Facebook é o "Estive no Pingo Doce, paguei 50% e sobrevivi!" (escrito pelo economista Pita Barros).

4. O Pingo Doce já era um discounter. Quem trabalhou alguma vez na área de distribuição sabe disso, distribuição e produtores.


5. Cenas lúgubres só foram vistos por quem tem a barriga cheia… para os outros foi um mês ou dois de bonança.


6. Já se viu violência idêntica nas estreias do livro do Harry Potter, do último Iphone e vestidos de noiva pelo mundo todo, pelo que nada de anormal se passou. Vê-se o mesmo em jogos de futebol, concertos, manifestações. O facto de ter acontecido por causa de um desconto torna isto especial? Ou é a questão do dia 1 de Maio? Ou ainda a arrogância dos que já se pelaram por um Ipad e consideram que fazer o mesmo por comida não é "digno"?


7. Riemen, Tocqueville, Gasset… over think much?! Pedro Santos Guerreiro, como outros comentadores, acham mesmo que faz sentido ir por aí?


8. Os valores de Alexandre Soares dos Santos estão reflectidos no texto do funcionário do Pingo Doce, Adriano Pinto, que anda a circular pelo FB (interessante, e o perfil FB até é verdadeiro). Vejam. O texto dele explica muito como é que diferentes atitudes podem trazer ou destruir valor.


9. "uma humilhação"?? Que falta de sentido! Muitas foram as lojas do PG em que, apesar das longas filas e demora, tudo correu na normalidade. 50 intervenções da PSP (se assumirmos 1 hora por intervenção) em 360 lojas abertas 8 horas… é menos de 2% de incidência!!! O normal nesse dia foi demorar mais a comprar, não foi a anarquia! Alguém se deu ao trabalho de ver, num dia normal, quantas as intervenções da PSP em todos os Pingo Doce?

Corrijam-me se estiver errado, até por que estou a concordar com Camilo Lourenço (que vejo sempre a sobre-simplificar os assuntos) no seu artigo "Sem Pingo de Juízo", mas passar dois dias a discutir isto e chegar ao ponto de ir buscar Riemen Tocqueville, Gasset ou Espinosa… 

Tudo isto me parece escrito com uma tal falta de decência e honestidade intelectual… que tive de escrever este texto.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Austeridade Backloaded


Há poucas semanas eu propunha um plano para “adiar a austeridade”.
  
Um plano cujo sucesso dependeria da capacidade dos dirigentes europeus assumirem um compromisso colectivo forte que favoreça o crescimento económico e o combate ao desemprego e ao mesmo tempo uma política fiscal responsável. Para tal, é necessária solidariedade entre os vários países membros da UE  e um compromisso credível por parte de cada estado membro de que no médio prazo (nos próximos 3/5 anos) haverá uma consolidação orçamental  que permita reduzir os défices públicos estruturais.

Neste artigo no NYT, Christina Romer, até há pouco tempo à frente do “Council of Economic Advisers” do presidente Obama, oferece uma proposta muito semelhante:

“The core of a more sensible approach is to pass the needed budget measures now, but to phase in the actual tax increases and spending cuts only gradually — as economies recover. To use economists’ terminology, the measures should be backloaded.”

Paulo S Monteiro