terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SPAM das 7 Maravilhas

Confesso algum desconforto pessoal por ouvir falar em mais uma eleição de 7 maravilhas! Depois das 7 Maravilhas do Mundo Antigo e das 7 Maravilhas do Mundo Moderno, temos sido invadidos pelo que eu chamo "SPAM das 7 Maravilhas"!

São as 7 maravilhas da gastronomia, as 7 maravilhas do País, do Distrito, do Concelho, as 7 maravilhas das praias… por este andar, qualquer dia estamos a votar nas 7 maravilhas das inutilidades das 7 maravilhas!
De um conceito interessante passámos para algo sem qualquer valor cultural ou turístico. As 7 maravilhas tornaram-se vulgares e sem interesse cívico, comparáveis talvez aos recordes do Guinness World Records que os portugueses tanto gostam de superar mas que são de utilidade nula ou mesmo negativa!
Não vejo outro objectivo nestas eleições que não sejam as receitas dos telefonemas, os salários milionários dos apresentadores e a ocupação de quem não tem muito mais a que se dedicar!

Mas, será que esses “nobres” interesses privados são publicamente relevantes para que a televisão pública dedique mais do que um minuto do seu tempo com estas questões? Não haverá nada mais importante do que perder tempo com eleições que são desfasadas pelo número de caciques de cada região em votação e pela capacidade económica dos votantes? Será ainda que alguém terá em consideração (isto, caso se lembre) as várias 7 maravilhas já eleitas e as que se seguem nas suas decisões turísticas ou gastronómicas?

Penso que há assuntos bem mais relevantes para ocupar tempo de antena numa televisão pública e não me parece que a multiplicação do SPAM das 7 maravilhas de tudo e mais alguma coisa seja produtivo, interessante ou relevante para o país e para os cidadãos que suportam financeiramente a televisão pública!



p.s.: caso não concorde comigo, e dado que este blog não censura outras opiniões, pode utilizar este link para votar nas 7 Maravilhas das Praias de Portugal – Costa Alentejana

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Operação Carnaval – a falácia da comparação de mortos

As operações de fiscalização das forças de autoridade durante períodos festivos têm sempre um final dramático mas também pouco humano. Comparam-se mortos, feridos graves e feridos leves, como se estivéssemos perante estatísticas desprovidas de valores sentimentais. Mas podemos comparar pessoas da mesma forma que comparamos outra coisa qualquer como as vendas de carros ou o numero de empresas por habitante…?

As divulgações do número de mortos passou a ser o corolário das festividades. Liga-se a televisão ou a rádio e somos invadidos por notícias ou imagens de acidentes, por sirenes a tocar e por agentes da autoridade a dar entrevistas. Este período de Carnaval não foi indiferente a esse fenómeno. Segundo as últimas noticias que li, terão morrido “8 pessoas  nas estradas, mais uma do que o registado na operação do Carnaval em 2011”! Vou repetir, “mais uma do que o registado na operação do Carnaval em 2011”!

Se a utilização das operações policiais como forma de reportagem televisiva para ocupar tempo de antena me parece mau jornalismo (principalmente quando se trata do pós período festivo em que já não está em causa nenhuma tentativa de sensibilização dos condutores de veículos motorizados), a comparação de mortos merece a censura social!
Mesmo que do ponto de vista estatístico faça sentido comparar números de períodos homólogos, as conclusões e respectivas declarações devem ser revistas em função dos resultados. É claramente falacioso dizer que houve mais um morto em 2012 do que em 2011. Afinal de contas morreram 8 pessoas ou 1 pessoa durante esta operação? É que se efectivamente faleceram 8 pessoas, é completamente descabido afirmar que morreu “apenas” mais uma pessoa que em 2011 (não terão morrido mais 8 pessoas??)!

As estatísticas são como a economia e muitas outras ciências com aplicação social! Desprovidas do mundo real têm tendência a deturpar a realidade dos factos!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Cópia privada

Recebi há pouco tempo um email que me alertava para um projeto lei apresentado pela Deputada Gabriela Canavilhas, que prevê a aplicação de taxas extra sobre produtos que permitam fazer ou guardar cópias privadas. Os produtos em causa são, por exemplo, computadores, consolas de TV por cabo, telemóveis, tablets, playstations, impressoras multifuncionais, mp3, câmaras fotográficas, cartões de memória, pens, discos rígidos e outros.

A cópia privada é um direito de todos nós, que compramos de forma legal um produto e que queremos utilizá-lo para proveito próprio, sem com isso lesar os direitos de autor. Penso que este projeto lei está desenquadrado da realidade, pois quer limitar o acesso aos canais de informação aplicando estas taxas extra.

O direito de autor é algo que pagamos quando adquirimos uma obra literária, discográfica ou cinematográfica, apenas para citar as que mais facilmente poderão dar origem à cópia privada. É justo que se paguem direitos de autor, pois é o meio de recompensa da criação de uma obra. A cópia privada contempla que cada um de nós possa dar uso individual e privado a uma obra que adquiriu legalmente. Assim sendo, o que deve ser alvo de regulação é o uso para efeitos comerciais, não legais, das obras adquiridas, assim como a limitação do acesso a downloads ilegais, que desrespeitam o direito de autor.

Parece-me um absurdo que em vez de se apostar num controlo rigoroso nos canais de informação, se pense sequer na possibilidade de aplicar uma taxa extra à aquisição de produtos que são fundamentais para o uso desses mesmos canais.

Esta medida prova que a forma de remediar as situações em Portugal não é ir à raiz do problema e aplicar o que por lei faz todo o sentido, mas sim arranjar uma desculpa para criar mais um imposto, que penalize tanto as boas como as más práticas e que aumente a receita do Estado pelo lado da sobrecarga da política orçamental, em vez de usar aquele que devia ser o seu papel fundamental de regulador, identificando e punindo as más práticas, sem prejudicar o acesso à informação que é fundamental no desenvolvimento de um país.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

"Alentejo Soft Power" – uma oportunidade a explorar

O Soft Power tem vindo a ganhar cada vez mais relevância, em oposição ao antigo poder das potências mundiais caracterizado por poder económico, poder militar e poder de influência.

Mas o que é o Soft Power? O conceito Soft Power surgiu em 2004 com o livro de Joseph Nye denominado “Soft Power: The Means to Success in World Politics”. Traduzido à letra significa poder ligeiro ou o poder brando. Na prática, trata-se da habilidade em utilizar um conjunto alargado de factores endógenos para a afirmação de um país ou de uma região e, com isso, captar investimentos públicos, atrair empresários e turistas. Algumas publicações efectuam rankings anuais de países com base nos soft powers e na capacidade e/ou criatividade em explorar esses pequenos poderes. Um exemplo é a revista internacional “Monocle” cujo ranking tem em consideração factores tão variados como o número de prémios Nobel, o número de medalhas olímpicas, a taxa de criminalidade, o número de ONG`s (Organizações Não Governamentais), o número de turistas ou a quantidade de marcas registadas.
Sendo um conceito relativamente novo em Portugal, há margem para uma determinada localidade ou região apostar nesta área como trampolim para o desenvolvimento. Falando no caso particular do Alto Alentejo, temos inúmeros factores que podem ser considerados soft powers. Dos textos de José Régio, à doçaria conventual, das competições de todo o terreno aos produtos certificados, do “Triangulo Turístico Marvão – Castelo de Vide – Portalegre” à qualidade das nossas águas, das paisagens verdejantes do Parque Natural da Serra de São Mamede aos saberes tradicionais, da cultura do povo à situação geográfica, da qualidade das instalações turísticas à riqueza gastronómica, …. o Alto Alentejo tem um conjunto diversificado de mais-valias que pode promover estrategicamente de forma conjunta com o objectivo de chamar pessoas, trazer empresários, dinamizar a economia.

Como é que o pode fazer?

Com artigos de jornal, newsletters, comentários em blogs, criação/dinamização de grupos e páginas em redes sociais, partilha de vídeos, divulgação das mais-valias em revistas ou fóruns internacionais, criação de associações e movimentos de cidadãos… E, depois de conseguir trazer pessoas, importa não defraudar as expectativas criadas, tornando qualquer vinda ao Alto Alentejo numa experiência única e inesquecível! São estes pequenos factores que podem contribuir para a dinamização de uma localidade, de uma região e de um país.
Sem poderio militar, sem transferências de fundos comunitários, com os cortes ao investimento público, com perda de população e envelhecimento dos residentes e com significativa redução do tecido empresarial, temos de adoptar outra estratégia. Necessitamos de identificar oportunidades e casos de sucesso internacionais (como é o caso dos soft powers) para nos destacarmos e invertermos o ciclo vicioso do subdesenvolvimento de que falei aqui neste mesmo jornal em 20/11/2008. (este artigo pode ser lido aqui)

Através destes pequenos poderes temos a oportunidade de dotar esta região de um verdadeiro desenvolvimento sustentado. Este é um desafio não apenas para as entidades públicas mas também para os cidadãos. Todos podemos, dentro das nossas possibilidades, contribuir para o desenvolvimento integrado do Alto Alentejo!


Nuno Vaz da Silva

Este artigo foi publicado na edição de 15/02/2012 do Jornal Alto Alentejo e pode ser lido também no blog Deseconomias



terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Assessor de comunicação politica....procura-se!

Medidas adequadas e estratégia correcta não são suficientes para a boa implementação de uma determinada política. Saber passar a mensagem é fundamental para o sucesso, principalmente no que diz respeito a assuntos políticos.
Em regimes democráticos, a comunicação é uma exigência constitucional para governantes e opositores. Mas a “comunicação” é também uma das ferramentas que os ditadores utilizam para permanecerem no poder. Assim, existe uma diferença formal entre comunicação e propaganda. Apesar disso, os governantes de regimes democráticos têm tendência em confundir ambos os conceitos. Se aparentemente esta confusão pode ser insignificante e ter até vantagens no curto prazo, a médio e longo prazo, a má comunicação e a propaganda são perversas para os políticos, para as politicas públicas e para a sustentabilidade das democracias.
Como não vivemos em contexto de informação perfeita, a propaganda, as manchetes de órgãos de comunicação social e a contra informação são generalizadamente aceites como correctos, fidedignos e verdadeiros. A médio prazo, essas técnicas são recebidas com desconfiança e descrédito, o que gera um problema de comunicação difícil de solucionar por parte dos políticos.
Mas a comunicação em política está também dependente dos chamados quick-wins. São as pequenas vitórias e as politicas imediatas que motivam os cidadãos e que aumentam a confiança nos governantes, no sector público e no sistema político. Da mesma forma, são esses factores que levam à aceitação da mensagem política.
Quando a comunicação tem falhas e sempre que os quick-wins não se verificam, os cidadãos desmotivam e a retoma da economia torna-se mais difícil e demorada. Este é um dos problemas que o governo, partidos de oposição, órgãos de soberania, sindicatos e patrões devem prestar muita atenção! Se não tivermos uma politica económica de contra ciclo (de estímulo à economia) e com dificuldades de comunicação crescentes, os problemas sociais podem encontrar aqui um factor multiplicador que ninguém deseja.
Dado que a austeridade é uma inevitabilidade para resolver desequilíbrios orçamentais de várias décadas, é desejável que as politicas públicas sejam bem explicadas aos cidadãos. Não se pode ter apenas o discurso da troika e dos credores, relegando para mais tarde (ou para um plano inferior) a comunicação aos contribuintes. O Governo pode estar a fazer um óptimo trabalho mas se não tiver o apoio dos seus cidadãos, de nada servirá ter boa nota na apreciação internacional. Isso implica igualmente que não se fale em excesso, com exagero nos termos e/ou na forma.