quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Universidades de Verão – as novas oportunidades da politica?


reentré politica nacional tem ficado marcada por eventos de entronização de jovens na politica: Universidades de VerãoNão se tratam de licenciaturas,  bacharelatos nem cursos académicos mas têm professores, alunos e diplomas. Podiam chamar-se confraria, workshop, ciclo de conferências ou até tertúlia mas escolheu-se o nome “Universidade de Verão”. 

As Universidades de Verão têm alcançado vários objectivos, principalmente partidários, com desfile de figuras políticas de renome e discursos que abrem noticiários, num período de férias tão pobre em factos mediáticos relevantes.
Essencialmente, as Universidades de Verão são eventos de marketing partidário com uma mais valia da partilha de experiências entre os “alunos” e o sentido de pertença a um núcleo de pessoas que vestem ou vestiram a camisola do “curso” (o que também costuma ser apelidado de networking, loby, amizade, ou em alguns casos, boys…..).

As Universidades de Verão não devem ser tidas como substitutas de verdadeiros cursos de politicas públicas, com ensinamentos que vão deste a gestão pública à macroeconomia, passando pela contabilidade e pela ciência politica. Ninguém pode exigir a um aluno de um curso de uma semana que tenha o mesmo nível de conhecimentos que se obtém numa licenciatura, mestrado ou doutoramento em politicas públicas. Os responsáveis deste tipo de formação partidária devem incentivar os seus formandos a procurar experiências académicas mais especializadas e partidariamente isentas depois de obtidos os “diplomas de Verão”.

O discurso político é importante, a capacidade de argumentação e de liderança também mas, sem bases sólidas de conhecimento, a análise dos assuntos ficará pela rama e mais permeável às influências dos grupos de interesse especializados na captura do poder.

Não sou adepto das correntes de opinião que não vislumbram qualquer relevância positiva das Universidades (partidárias) de Verão mas preferiria que a designação escolhida para os eventos não desvalorizasse o papel de verdadeiras academias capacitadas e reconhecidas para formar especialistas em políticas públicas. Factos aparentemente tão insignificantes como a designação ou o marketing funcionam como excelentes dinamizadores da vida politica mas podem ser, ao mesmo tempo, desincentivadores da procura de conhecimento. Quando todos os participantes das Universidades de Verão decidirem enveredar por cursos a sério de políticas públicas, eu direi que estas cumpriram o seu papel no estímulo dos formandos à procura de conhecimentos em prol da gestão eficiente dos escassos recursos do país!

Afinal de contas, o conhecimento não ocupa lugar! Mas, à expressão popular eu acrescentaria, ......mas dá trabalho e implica muitas horas de dedicação!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A RTP já é, desde 2008, uma concessão de serviço “público”!


A discussão sobre a tipologia de gestão da RTP tem estado associada ao conceito de serviço público de televisão. Enquanto uns defendem que não há necessidade desse serviço público, outros argumentam que é imprescindível que seja defendido, custe o que custar!

Mas afinal o que é o serviço público na televisão?

A própria RTP disponibiliza na sua webpage os princípios norteadores do serviço público de televisão. Na página da estação pública temos ainda acesso ao contrato de concessão deserviço público….exacto, concessão! Tantas criticas com uma eventual futura concessão de serviço público e ela já existe e está regulamentada à vista de todos! O contrato foi assinado em 2008 por dois Ministros do executivo de José Sócrates (Dr. Teixeira dos Santos e o Dr. Santos Silva)

Mas voltando à discussão que me proponho, como definir esse conceito abstrato de serviço público?
A maioria dos tópicos identificados na fonte consultada referem aspectos generalistas e que são realidade inclusive na oferta de programação dos restantes canais generalistas, por exemplo:

• Assegurar uma programação variada, contrastada e abrangente, que corresponda às necessidades e interesses dos diferentes públicos.
• Manter uma programação e informação de referência, contribuindo desse modo para regular e qualificar o universo do audiovisual nacional.
• Garantir o exercício dos direitos de antena, de resposta e de réplica política, nos temos constitucional e legalmente previstos.

Outros objectivos parecem-me mais direccionados ao serviço público como os seguintes:

• Emitir as mensagens cuja difusão seja solicitada pelo Presidente da República, pelo Presidente da Assembleia da República ou pelo Primeiro- Ministro.
• Ceder tempo de emissão à Administração Pública, com vista à divulgação de informações de interesse geral, nomeadamente em matéria de saúde e segurança públicas.
• Combater a uniformização da oferta televisiva, através de programação efetivamente diversificada, alternativa, criativa e não determinada por objectivos comerciais.
• Assegurar uma programação de referência, qualitativamente exigente e que procure a valorização cultural e educacional dos cidadãos.

Quem critica a concessão da RTP a privados deverá ter em consideração que o serviço público já está actualmente concessionado e deverá ser capaz de fazer uma análise critica aos items que fazem parte dos objectivos dessa mesma concessão.

Dentro das características acordadas para o serviço público, não consegui encaixar um grande conjunto de programas que a RTP tem difundindo. Não querendo ser critico quanto aos programas nem quanto aos apresentadores (até porque isso significaria uma análise deturpada pela minha escala de valores e pelo gosto pessoal), ou o contrato de concessão foi mal negociado ou então esses programas não são efectivamente serviço público. Falo dos programas que elegem cantores, dançarinos ou outros tipos de profissões sem colocação no mercado, dos programas que dão prémios às pessoas sem necessidade de terem conhecimentos culturais, das horas intermináveis desperdiçadas em lutas de audiência, da transmissão de jogos de futebol sem dar espaço equivalente às restantes modalidades, dos programas de “famosos”, da transmissão de musicas de qualidade e proveniência duvidosa, dos programas de 7 maravilhas (…)e tantos outros!!!!

Em abono da verdade, há um outro conjunto de programas que considero realmente de características públicas. Refiro-me à vivência dos portugueses na diáspora, aos programas de biodiversidade, aos programas de história, às reportagens sobre poupança e desenvolvimento, à partilha de casos de sucesso, ao tempo de antena para os bombeiros, religiões minoritárias e alertas metereológicos…

O serviço público de televisão não deve ficar como está e/ou o contrato de concessão existente tem de ser reformulado!  As duas coisas, tal como existem, são incompatíveis e nenhuma delas está a cumprir o seu papel de defesa do património e de promoção do desenvolvimento socio-economico e cultural da população portuguesa!

Parece-me um erro termos uma televisão pública de serviço público (na teoria) mas que, na prática, actua como uma televisão de capitais públicos e estratégia de mercado concorrencial!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

RTP - o case study das movimentações politicas



O “caso” RTP é um excelente case study de análise politica às movimentações dos diversos actores envolvidos no caso.
O Governo, consciente do mediatismo do tema e da situação enfraquecida do Ministro que tutela a área, permite que um reconhecido consultor apresente a solução para o canal público, lançando a discussão sobre o tema! Esta solução foi apresentada num canal da concorrência em período de férias, antes dos discursos de reentré das Universidades de Verão e num período de ausência do Ministro da tutela, em véspera de viagem transatlântica a Timor.

A oposição apressou-se a radicalizar o tema: O líder do PS afirmou que, se o actual Governo concessionasse o canal público, voltaria a colocar tudo como agora  assim que fosse eleito líder do executivo. O PCP e Bloco de Esquerda vieram a público denunciar uma suposta “negociata” que delapidaria os bens públicos.
Os sindicatos, mostraram-se contra a concessão, assim como a Administração da RTP e até o ex-presidente da república Mário Soares manifestou a sua oposição.
Estas movimentações dão nota de um Governo que decidiu “apalpar” o terreno sem grandes efeitos negativos para a sua própria imagem. O mais criticado neste pré-anuncio foi o consultor António Borges mas não o Primeiro Ministro nem o ministro da tutela. Já a oposição fez o que lhe competia mas com alguma demagogia, senão teria sido mais prudente ao pedir contas, avaliar alternativas e apresentar propostas. Dizer que voltará a colocar tudo como estava sem saber quanto isso custaria pode inclusive ser uma prova de indiferença e má gestão quanto aos custos, benefícios ou estratégia da medida. Quanto aos sindicatos, não há muita coisa a dizer…cumpriram o seu papel histórico!

A posição mais estranha foi da Administração da RTP. Claro que se o canal público for concessionado ou mesmo privatizado, os actuais cargos de administração estarão em risco. Mas se os gestores executivos são nomeados pelo Governo segundo critérios de meritocracia e de confiança politica, como justificar a oposição a esta eventual concessão?

A meu ver podem existir duas justificações:

  1. A Administração da RTP já sabe que este não será o caminho seguido pelo Governo, o que lhe dá carta branca para a critica
  2. A Administração da RTP já pouco tem a ganhar ou a perder porque o seu mandato está prestes a terminar


A RTP deve ser repensada em função de uma estratégia de gestão equilibrada dos activos do Estado. Pode haver motivos para ser privatizada, concessionada, encerrada ou reestruturada mas as decisões têm de ser reflexo de análises custo-beneficio isentas e sem a influencia de lobys ou interesses alheios. Se for importante ter um meio de comunicação do próprio Estado, então que esse seja um coeficiente que pese na análise a efectuar. Mas não sejamos dogmáticos quanto a uma decisão de cariz empresarial num país que já privatizou a energia, concessionou hospitais e redes viárias e continua a necessitar de dinheiro para pagar as dividas.
Afirmar que não se concessiona ou que não se privatiza só para ser do contra, é uma irresponsabilidade moral para os portugueses que durante tantos anos suportaram salários milionários e a gestão deficitária nos canais públicos!


sábado, 25 de agosto de 2012

Gostaria de saber a vossa opinião...

Este Post é genuínamente uma sondagem aos leitores do Dinamizar Portugal. Considerem uma pequena economia aberta, que faz parte de uma união monetária e cujo o sector público enfrenta uma crise da dívida soberana e portanto não se pode endividar. Que notícia vos suscitaria maior optimismo:

(a) Importações crescem 1% no último trimestre.

(b) Importações diminuem 1% no último trimestre.

Vem isto a propósito de competitividade, crescimento, confiança dos mercados and what not...

Qual é a vossa opinião? 

  

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Beneficiários de RSI obrigados a trabalhar até 15 horas por semana

Numa óptica de identificação de medidas ou politicas a louvar (implementadas em Portugal ou em qualquer outro lugar), aqui deixo esta noticia que poderá contribuir para uma sociedade mais justa e equilibrada!


Será uma politica isenta de criticas? Talvez não! Haverá formas de fuga a esta obrigação de trabalhar até 15 horas? Provavelmente! Mas acima de tudo é um sinal para quem recorre a subsídios e um indicador de estimulo para quem contribui para o pagamento desses mesmos subsídios!
O subsidio de inserção, como todos os outros subsídios, deverá ser sempre uma forma de apoio temporário e não de pagamento indiferenciado.

Este é um sinal que será certamente apoiado pela maioria dos contribuintes e uma forma de Dinamizar Portugal!


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cada um tem o Furacão que pode


A meio da semana passada, soaram as campainhas.
As televisões entraram em histeria e formaram-se especialistas em Meteorologia, com uma rapidez de fazer corar Miguel Relvas.
No Facebook multiplicaram-se os gráficos, as previsões e os palpites.
Aqui o "Je" pensava: Mau, queres ver que já me lixaram o fim das férias ?!
Contra todas as evidências de estávamos perante uma potencial catástrofe sem paralelo, na história dos Açores, bem pregou o decano dos Meteorologistas Açorianos, Anthímio de Azevedo.
Então, não é que o homem teve o desplante de desvalorizar "a coisa", prevendo que haveria temporal, sim senhor, mas que seria dentro do "habitual", com o senão deste ser durante o Verão.
Senil ! Fala do que não sabe ! Chorrilho de Asneiras !
Este é um resumo dos epítetos, que foram atribuídos ao senhor.
Afinal, o homem tem mais de 80 anos, está reformado, e "só" passou 3/4 da sua vida a acompanhar "coisas destas".
As televisões não desarmaram, toca de enviar equipas para várias ilhas - até para aquelas onde nunca esteve prevista a passagem do Furacão - que isto de Açores ainda faz muita confusão a muita gente em Lisboa, e assim lá foram equipas para Faial e Terceira...menos mal...tiveram uns diazinhos de folga a aproveitar o bom tempo dos Açores !
Da parte dos organismos oficiais Açorianos, multiplicaram-se os alertas, com os responsáveis governativos a aparecerem, devidamente equipados com os inevitáveis casacos em cores fluorescentes, nas televisões nacionais, a tranquilizar as assustadas populações.
Durante a noite de Domingo, para Segunda-Feira, estava previsto.
Se passaria mais perto de São Miguel, ou de Santa Maria, era discutido ardentemente, em grupos, nas redes sociais, e fóruns da especialidade (pois, existem fóruns sobre Meteorologia, eu também não sabia, vergonha minha).
Com o avançar de Domingo, começou a perceber-se que o Furacão estava a perder força. O Malandro!
Passava da meia-noite, e os directos da RTP davam um repórter em Ponta Delgada impecavelmente alinhado, apesar de estar em plena Avenida Litoral, onde por aquela altura devia de estar um "temporal desfeito"...menos mal, o colega de Santa Maria já apanhava chuva, e tinha imagens sugestivas para mostrar, com chuva intensa e vento, muito vento.
Os Furacões têem destas coisas, chegam a horas esquisitas, e atrasam-se...fossem organizados, e chegavam às 20:00 Horas mesmo a tempo da abertura dos noticiários, agora...um Furacão entre as 3:00 e as 6:00 da manhã não lembra a ninguém.
As televisões ainda tentaram convencê-lo a chegar mais cedo, montando directos por volta das 0:00 de Segunda-Feira, mas...nada...o tipo não se comoveu..mau feitio!
Eu, como a maioria dos Açorianos, tratei de arrumar melhor as coisas do jardim. Fechei bem os estores, e...fui dormir, que Segunda-Feira era dia de voltar ao trabalho.
Pelas 8:00 de Segunda liguei a televisão, para ver, afinal o que se passou...
Oh pá, não é que o "senil" Anthímio de Azevedo tinha acertado em cheio ?
Tivemos um temporal à séria, com muito vento e chuva...pouco mais ou menos igual a tantos outros que assolam os Açores, com a já referida diferença de este ter acontecido em pleno Verão.
Imagino um telefonema, entre a Direcção de Informação de uma Televisão, e o Repórter destacado para o acontecimento:
Mortos ? Não há, pá !
Nem sequer uns Feridos ? Nada !
E os barcos, pá ? Não há naufrágios ? Não, pá, os gajos puseram os barcos todos em terra !
Então e...casas destruídas ? Eh pá...há ali uns arrumos em Vila do Porto que se "esborralharam"...ala filmar depressa!
Eh pá! Tanto trabalho para nada ! Apanha mas é o avião, que a malta vai usar imagens de Arquivo, para compor a reportagem.
Olha, tá aqui um dia porreiro! Se calhar a malta ia à Praia, que o avião é só logo à noite !

Notas finais: Apesar do tom ligeiro deste escrito, há que fazer a justiça de reconhecer o trabalho de prevenção realizado pelas autoridades, nomeadamente, junto ao mar, sem o que talvez não houvesse a boa disposição para escrever desta forma.

Incrivelmente, o maior prejuízo causado pelo Gordon, passou praticamente despercebido nas televisões (apenas a RTP/A lhe dedicou a devida importância): Os campos de milho, a cerca de 1 mês da sua colheita, completamente arrasados! Mereceram um rápida menção como "apenas alguns danos na agricultura", quando na verdade o que está em causa é a alimentação do gado leiteiro durante o Inverno, que passa por ser a única coisa que os Açores, verdadeiramente produzem.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Função Pública: Custos do Trabalho



Ao contrário da esmagadora maioria das opiniões que li, do ponto de vista económico e não jurídico, estou de acordo com a decisão do Tribunal Constitucional em considerar inconstitucional o corte dos subsídios aos funcionários públicos. A discussão que está na ordem do dia, consiste em saber se o Estado em 2013 aplicar uma sobretaxa a um dos subsídios auferidos por todos os trabalhadores, sejam públicos ou privados,  para garantir o cumprimento do objectivo do défice acordado com a Troika.

Do ponto de vista da equidade não me parece correcto aplicar cortes salariais aos trabalhadores  apenas em função da natureza pública ou privada da entidade patronal. Da mesma forma, aplicando igualmente o principio da equidade não me parece razoável que as relações de trabalho tenham uma regulamentação diferente entre sector público ou privado,  ao nível das regras para cessação dos contratos de trabalho e respectivas indemnizações, das progressões de carreira , horários de trabalho, férias, outras regalias diversas ao nível da protecção social, concessão de pontes em vésperas de dias festivos etc, etc.

Na minha opinião, suportada pelos vários estudos que tem sido realizados, os funcionários públicos beneficiam em média de condições de trabalho mais vantajosas do que no sector privado, nomeadamente ao nível salarial, progressão de carreira,  estabilidade do emprego, horário de trabalho, etc. 

A decisão de eliminar os subsídios aos funcionários públicos, apesar de resolver o problema orçamental no curto prazo constitui uma medida errada do ponto de vista económico. O trabalhador dedicado produtivo é penalizado porque não vê reconhecido o mérito e importância do seu trabalho  enquanto que o trabalhador ineficiente é premiado porque ainda assim a redução salarial aplicada será bastante inferior ao que seria justo. No longo prazo, a existência de uma ineficaz política de organização de serviços públicos e correspondente valorização dos mesmos servirá como desincentivo para os profissionais capazes ingressarem na função pública fazendo reduzir consequentemente a qualidade dos serviços prestados. 

Nesse sentido, para que caminhemos para uma solução mais eficiente onde nem todos sejam tratados pela mesma bitola é necessário que o Estado avalie a qualidade dos serviços que presta e a importância dos mesmos para a população em geral, bem como a produtividade dos recursos que lhes estão afectos e actue discriminando positivamente e negativamente com novas condições salariais em função das conclusões  obtidas.  Sem este conhecimento não acredito que hajam reformas no Estado que respeitem os princípios de justiça e garantia da sustentabilidade da qualidade dos serviços prestados a um custo suportável pela economia.

Da minha experiência pessoal, conheço bastantes funcionários públicos capazes e com potencial para servir eficazmente o Estado, alguns deles desmotivados pelas condições de trabalho que tem. Por outro lado já assisti a situações de clara desorganização, lentidão, e improdutividade de funcionários, que beneficiam de protecção sindical, perpetuidade do posto de trabalho, tabelas salariais desajustadas e provavelmente associados a progressões automáticas. Esta dualidade não pode persistir numa economia que se quer competitiva. Recordo que o custo do trabalho deve estar ligado à produtividade do trabalhador e ao valor económico do mesmo. 

Actualmente, analisando o que se passa no funcionalismo público verifico que este principio não é respeitado.
Falando em termos abstractos: será que um funcionário publico em fim de carreira que custa ao Estado o triplo de um trabalhador com poucos anos de experiência, tem o triplo da produtividade? Será que a antiguidade está relacionada com a competência e produtividade? Dos várias situações que me ocorrem agora, a resposta é que não. Por outro lado, será que a diferenciação nas remunerações e no número de efectivos entre os vários níveis hierárquicos da administração pública é adequado?

Diria que a uniformização das condições de trabalho entre funcionários públicos e privados e implementação de novas grelhas salariais para toda a função pública seriam exemplos de excelentes reformas estruturais para a economia portuguesa e um passo largo para a construção de uma sociedade moderna.
Creio que o resultado desta reestruturação poderá ter efeito orçamental pelo menos equivalente ao corte de subsídios, do ponto de vista económico originaria uma estrutura mais eficiente, e sobretudo seria melhor entendido pela população em geral.

Adoptar estas medidas implicaria uma profunda revisão constitucional revogando todas as regras que nos amarram a princípios de organização social de outros tempos e nos conduzem a um empobrecimento crescente. Sinto que passamos o tempo a falar em reformas. Actualmente o nível de despesa pública com pessoal é insustentável face ao crescimento económico, por isso, quando se fizerem reformas, que haja coragem política para as tornar suficientemente profundas para resolver de vez os nossos desequilíbrios financeiros e equitativos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Dinamizar Portugal em documentário -"Portugal - Os Caminhos da Incerteza"

Passados cerca de 2 anos desde o primeiro artigo, o blog Dinamizar Portugal fica registado para a posteridade no documentário "Portugal - Os caminhos da Incerteza"
Aqui fica o video do documentário. Quem não tiver tempo para ver o video na totalidade, seleccione o minuto 15:45 e espere para ver...






A crise explicada em 100 palavras!


De um lado temos um conjunto de pessoas chamados políticos que vivem cheios de incertezas nas palavras e nas decisões. Apesar das suas palavras afectarem milhões de pessoas, vivem presos às sondagens e à tendência de votos nas próximas eleições.

Do outro lado, alguns cidadãos, analistas financeiros, têm como objectivo ganhar dinheiro para si e para os seus patrões à custa de empresas, de pessoas ou de nações.

Nesta guerra de titãs, serão os maus da fita quem ganha dinheiro com uma estratégia clara e bem definida ou será antes a classe política que não tem estratégia de resposta adequada?





Ps: para os mais curiosos: conte as palavras do artigo e confirme que são nada mais, nada menos do que 100!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

sobre o encerramento do ramal de Cáceres



Apresentação do autor no I Seminário Pensar Marvão organizado pelo Movimento por Marvão
Em Portugal somos adeptos do “o que é sexy é bom”! Se uma localidade não tem rede de saneamento ou de água canalizada, não há problema! Afinal de contas tem um polidesportivo. Se um cidadão não tem uma casa digna, não importa porque tem uma parabólica no casebre! Se um individuo não paga as suas dividas, também não faz mal porque continua a ir tomar o pequeno-almoço todos os dias ao café mais caro da rua!

Vivemos de aparências e da demagogia dos interesses!

Esta triste sina passa-se também com o encerramento anunciado do ramal de Cáceres pela REFER e pela RENFE. É aceite por todos que a ligação geográfica mais rápida e eficiente entre Lisboae Madrid coincide com este ramal ferroviário. Durante muitos anos argumentou-se a favor da necessidade da construção de uma ligação rápida entre Lisboa e Madrid por TGV (projecto que custaria milhões de euros). Para os defensores do projecto era imprescindível haver uma ligação por ferrovia que unisse as duas capitais no menor tempo possível.
Como o TGV ficou em “águas de bacalhau”, parece que afinal a ligação rápida entre Lisboa e Madrid já não é assim tão necessária. Afinal de contas, pelas noticias de hoje, o comboio Lisboa- Madrid até já pode fazer um desvio até à Beira Alta (sim, não me enganei, é mesmo Beira Alta….o comboio terá o seguinte trajecto: Lisboa, Entroncamento, Abrantes, Castelo Branco, Fundão, Covilhã, Guarda e sairá de Portugal em Vilar Formoso com destino a Madrid!!!!!!!).

Mesmo colocando de lado a eventual influencia da minha análise por ser natural de Portalegre e por ter residido vários anos no Concelho de Marvão, esta decisão da CP e/ou da REFER continua a não fazer sentido:
Do ponto de vista económico, é natural que o novo trajecto até passe por localidades com mais habitantes, o que não quer dizer que estes passem a utilizar o comboio Lisboa-Madrid. Para além disso, muitos dos actuais utilizadores do comboio vão certamente optar por outras alternativas, nomeadamente o avião, o que implica, em contrapartida, uma perda de passageiros. Haverá então garantia de obter mais receitas de bilheteira com esta modificação?? Parece-me que não!
Se a decisão da política de transportes ferroviários teve por base uma análise custo beneficio, ela deve ser apresentada ao público e não apenas aos municípios para que desta forma possamos contrapor e identificar coeficientes eventualmente não considerados na análise, como o potencial turístico, as assimetrias regionais e muitos outros.
Mas, não pode a REFER, nem a CP, nem os Municípios, nem o próprio Governo (sejam quais forem as forças politicas no poder) compactuar com argumentos em defesa de uma ligação rápida entre Lisboa e Madrid por TGV e ao mesmo tempo serem permissivos com o fecho de um ramal ferroviário excepcionalmente bem situado geograficamente e que poderia ser reabilitado facilmente para permitir uma maior eficiência na ligação.

Fechar o ramal de Cáceres é um erro de estratégia politica e um erro que afecta as trocas logísticas de Portugal para o exterior.

Portugal fica mais pobre com esta decisão e fica mais isolado do exterior. Conclui-se que o objectivo do TGV não era dotar Portugal de uma ligação rápida e directa a Madrid. Seria apenas gastar milhões de euros num projecto sexy e emblemático.


Faço votos que os políticos e decisores do futuro tenham a inteligência e a coragem de manter e renovar a obra que os outros deixaram em vez de a quererem destruir ou substituir por opções com eficiência duvidosa e que dependem mais de questões conjunturais ou interesses regionais do que decisões estruturais com o objectivo de dinamizar o país e promover o progresso da sociedade!






Post gémeo publicado no blog Deseconomias




quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Estás enrascado? Então cria um incidente!!


Não há nada como a existência de um incidente para afastar a agenda mediática dos assuntos realmente importantes.

Quando Telma Monteiro perdeu no seu primeiro combate de judo nos Jogos Olímpicos, houve dezenas de notícias sobre o tema, centenas de comentários e seguramente milhares de publicações nas redes sociais. À parte de alguns comentários de conforto, a maioria das publicações criticava os atletas portugueses e a forma como os preparamos para competir à escala olímpica. No entanto, passados 2 dias já poucos se lembram do combate de Telma Monteiro. Bastou que uma outra atleta luso-brasileira tivesse protagonizado um incidente ainda mais mediático (falo da velejadora Carolina Borges-Mendelblatt), com a sua renúncia à competição.

Mas estes episódios não ocorrem apenas no desporto. Com o caso da licenciatura do Dr. Miguel Relvas, a atenção mediática deixou de ser direcionada para as políticas do Governo na saúde, na administração pública ou mesmo na justiça. O mesmo sucedeu com o discurso do Dr. Passos Coelho e a sua expressão “estou a lixar-me para as eleições”.
Para o comum dos portugueses é mais importante noticiar se preparamos bem os atletas e como poderemos melhorar a nossa eficiência olímpica do que multiplicar a noticia de uma atleta que se recusa a competir. Da mesma forma, o processo de licenciatura de um político ou um comentário mais brejeiro não deve sobrepor-se às políticas de um país!

A atenção mediática dos assuntos menores (o que não quer dizer que não sejam também eles relevantes à sua escala), sobrepõe-se quase sempre ao mediatismo dos temas realmente importantes e que têm impacto directo nas nossas vidas. Como os políticos sabem isso melhor do que ninguém, não há nada melhor do que criar um incidente ou fazer um discurso com uma expressão menos institucional para redireccionar a atenção dos jornalistas, dos bloggers e do público nas suas divulgações virais em redes sociais.

Somos um país de voyeurs compulsivos e raras são as pessoas que nesta avalanche de mediatismo consegue distinguir o trigo do joio que é como quem diz, distinguir os factos relevantes das cusquices criadas para colocar uma névoa nos factos relevantes!