quinta-feira, 31 de março de 2011

Eu Sou Loira e Há Coisas Que Não Compreendo

Há uns anos atrás, dizia-me uma grande amiga (que eu espero que leia o Dinamizar regularmente), não a propósito de Economia, que "a imaginação suprime a falta de informação". Uma frase cheia de bom senso. Estudos sobre os lápis azuis das ditaduras mostram que, não só as pessoas procuravam imaginar o que fora suprimido, com tendiam a supor tratar-se de algo bem mais escabroso e/ou subversivo do que na realidade era. Assim sendo, escapa totalmente à minha compreensão o facto de não se fazer já uma auditoria às contas do país, alegando que a mesma teria repercussões negativas sobre os mercados financeiros. É que esta justificação é o equivalente a dizer aos tais mercados "nós andamos a fazer de vocês parvos, a atirar-vos aos olhos a areia da contabilidade criativo-fraudulenta e isto está muito pior do que pensam". Qual é a ideia???!!!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Propostas para o problema da justiça II - acabar com a massificação dos cheques bancários

Em nenhum país civilizado é possível adquirir um bem ou serviço em troca de um papel rabiscado com uns números e uma assinatura, que basicamente diz a quem recebe o cheque o seguinte: "olhe, eu não tenho agora aqui dinheiro comigo ou disponível para lhe fazer uma transferência bancária. Mas vou-lhe escrever e dar este papelucho, e se você confiar em mim, acredite que eu tenho dinheiro na conta".

Pontos a favor:
- Eliminação dos largos milhares de caso que vão surgindo cada ano devido a cheques sem cobertura.

Pontos contra:
- Eventual redução dos depósitos bancários, se bem que julgo que não iria existir uma transferência tão significativa para as transacções em numerário.

terça-feira, 29 de março de 2011

Jogo de palavras presidencial

A obra-prima do mestre não é necessariamente a mesma coisa que a prima do mestre-de-obras. A linguagem é algo maravilhoso, pois duas expressões que aparentemente poderiam significar o mesmo, querem dizer na verdade coisas bem diferentes.

Vem isto a propósito da confusão que eu tenho reparado na mente de muitas pessoas sobre o carácter de quem aproximadamente 25% dos eleitores portugueses escolheram. Muitos (demasiados mesmo) acreditaram que neste 2º mandato ele fosse mais interventivo, ainda para mais no período conturbado que atravessamos. Além disso, foi o próprio que disse que iria exercer uma “magistratura activa” (alvíssaras a quem me explicar o que é uma magistratura passiva). Quiçá imbuídos pelo espírito sebastianista, julgaram ver nele o agente que iria incentivar as mudanças de que o país tão necessita. Ora, uma pessoa que trabalha em prol da mudança pode ser considerado um reformador.

Como todos os factos até ao momento comprovam, não, ele não é nenhum reformador. Há que tirar o “r” do final. É mesmo só um reformado. E um reformado é por definição alguém que deixou de ter um papel activo no que ao trabalho diz respeito. Concluindo, Portugal precisa definitivamente de pessoas com carácter reformador e não de reformado. Até porque, com todo o respeito, para os reformados a vida actual decorre a uma velocidade muito maior que nem dá semanas suficientes para ponderar, reflectir ou planear com calma sobre os assuntos que vão surgindo.

domingo, 27 de março de 2011

Krugman e a austeridade

Ao ler o artigo do Krugman (aqui) sobre as medidas de austeridade implementadas pelos Governos, só me surge uma dúvida: como é que uma pessoa que coloca Portugal e Grécia no mesmo patamar que os EUA, no que à liberdade das medidas económicas a tomar, ganha um Prémio Nobel de Economia?

sábado, 26 de março de 2011

Estou farto....

- de ver José Sócrates e sua entourage a aldrabarem de forma doentiamente repetida e completamente descarada os portugueses;
- de terem sido Guterres, Barroso e Sócrates a demitirem-se, e não nós portugueses a correr com eles;
- de fazer refresh sucessivos na página da presidência em busca de algum sinal de vida do geriátrico presidente;
- de ouvir apelos angustiados de cínicos como Sampaio e Soares;
- de que me tentem tomar por tolo, como quando Marcelo Rebelo de Sousa diz que provavelmente Sócrates fez o que fez por pensar que ainda tinha maioria absoluta e não queria forçar eleições antecipadas;
- de assistir ao Parlamento ser completamente ignorado e insultado por este governo;
- de ouvir ardentes comentários questionando a capacidade de Passos Coelho, mas a mesma pessoa dizer que o Teixeira dos Santos até é uma pessoa competente e séria;
- de ver que Passos Coelho ainda não tem uma equipa atrás dele que actue de uma forma organizada e coesa;
- de ver/ouvir/ler comentários dos mais variados idiotas a dizer que o ideal era haver um consenso entre os vários partidos ou que é melhor evitar ajuda externa (mais ajuda externa digo eu). La Palice não diria melhor;
- de ouvir pessoas a dizer que esperam que isto acontece, que fazem votos para que, que desejam que, ao invés de apelar ao trabalho e ao protesto da população para exigir que de facto se tomem medidas que pensem no nosso país. Ao contrário do outro cagão, acredito que nas ruas se muda alguma coisa;
- de ler que, nesta altura de emergência, antes de discutir medidas é boa ideia fazer auditorias às contas públicas para saber o real estado da coisa, através claro está....de comissões;
- de ver que há quem acredite que existem pessoas independentes politicamente. Como se ter ideologia fosse algo negativo.
- de ver que mesmo com toda esta espiral de acontecimentos, uma larga maioria da população continua na letargia e na resignação portuguesa do: "são todos os mesmos e isto não muda nada"
Em suma, irra: farto de palermas.

quarta-feira, 23 de março de 2011

As diferentes velocidades do Alentejo

Pelos dados da Direcção de Prospectiva e Planeamento do Ministério das Finanças, entre 2000 e 2006 a região do Alentejo registou uma tendência de convergência com a média da riqueza nacional (com uma variação positiva no VAB* de 4.3%), o que seriam óptimas notícias!
Mas, se analisarmos a estatística em detalhe, verifica-se que esta convergência foi conseguida à base de um forte decréscimo da população -4.9% e de uma subida dos preços de 4%, uma vez que a produtividade decresceu igualmente 4%.

Ou seja, uma estatística aparentemente simpática pode esconder aspectos muito negativos e gravosos para uma região…



Falar no Alentejo significa uniformizar uma área geográfica de 31.500 m2, com 753.000 habitantes. Há muitos “Alentejos” com diversos níveis de desenvolvimento. Nesta mesma estatística verifica-se que temos um Alentejo Litoral e um Baixo Alentejo em desenvolvimento, impulsionados pela actividade gerada em Sines e Neves Corvo e um Alto Alentejo (representado neste quadro apenas pelo Distrito de Portalegre) e um Alentejo Central (Distrito de Évora) em divergência com percentagens de variação negativa do VAB de -4.9% e de -7.4% respectivamente.
Se isolarmos os valores correspondentes ao Alto Alentejo, o VAB per capita aumentou 3% e o emprego cresceu 2.9% (o que poderiam ser óptimos resultados) mas a população reduziu 7.4% e a produtividade decresceu 7.2%. Aliás, o Alto Alentejo (Distrito de Portalegre) foi a sub-região Alentejana que mais população perdeu em percentagem neste período!

Quando os governantes falam de desenvolvimento regional falam das macro-regiões. Falam de um Alentejo com Sines, com o Aeroporto de Beja, com o Alqueva, com Neves Corvo e com Auto-Estradas que ligam as capitais de Distrito às redes logísticas. Mas a micro-região Alto Alentejo e nomeadamente Portalegre são realidades distintas. A auto-estrada passa em Elvas mas fica demasiado longe da capital de Distrito, as áreas tradicionais como o turismo e artesanato são insuficientes para fixar população e o facto de não existirem investimentos públicos impulsionadores para a região, leva os jovens a procurarem melhores condições de vida noutras regiões do país ou do estrangeiro. A convergência da região com a média do país pode até ser conseguida estatisticamente no curto prazo, pela via do decréscimo populacional, mas isso é também uma ameaça para o futuro da região por não ser sustentável a médio prazo. Nenhum dos grandes projectos previstos no Alentejo até 2030 terá impacto positivo em Portalegre. São eles o aeroporto de Lisboa em Alcochete (com impacto em Vendas Novas e Évora), a expansão do porto de Sines, a ligação ferroviária Sines-Badajoz, as “auto-estradas do mar”, a plataforma logística do Poceirão, a plataforma logística de Elvas/Caia, o caminho-de-ferro de alta velocidade, o IP8 Sines-Andaluzia, o aeroporto de Beja e a rede de rega de Alqueva.

O Alentejo pode estar em convergência mas o Distrito de Portalegre ficou esquecido dos governantes. Fica demasiado longe para ir de fim-de-semana e demasiado perto para criar uma centralidade própria. Não tem ouro, petróleo, portos, aeroportos nem pirites. Pessoas cada vez tem menos e as empresas que subsistem tentam sobreviver nesta dura realidade. Quando os governantes despertarem para este problema, talvez seja tarde demais. Será preciso começar tudo do zero: pessoas, empresas, estratégia e motivação!
Cada um de nós tem a sua responsabilidade própria que será tanto maior quanto a responsabilidade dos cargos ocupados e a capacidade de influência junto de quem decide!

Não deixemos o Alto Alentejo ficar esquecido!


* Valor acrescentado bruto (VAB) é a soma da actividade produtiva, no decurso de um período, para uma determinada região. Resulta da diferença entre o valor da produção e o valor do consumo intermédio, excluindo impostos e subsídios; VAB = PIB – (impostos - subsídios)


Artigo de Nuno Vaz da Silva publicado no Jornal "Alto Alentejo", edição de 3 Novembro de 2010 e que também pode ser lido no blog Deseconomias

domingo, 20 de março de 2011

Propostas para problema da justiça - utilities pré-pagas

Como é sabido, os tribunais em Portugal estão atulhados com processos relacionados com cobranças de facturas de telemóvel, internet, electricidade, etc. Uma vez que o volume é tal, é imperioso que se tomem medidas mais fortes, como as que descrevo abaixo:

Soluções fáceis e implementáveis de imediato:
- comunicações (móveis, fixas e internet): proibir contratos de assinatura, passando só a haver serviços pré-pagos;
- televisão por cabo ou digital: proibir contratos de assinatura também, podendo igualmente existir só pré-pagos;

Soluções que implicam custos de implementação:
- para electricidade, água e gás canalizado averiguar qual a solução tecnológica e seus custos que permita uma solução de pré-pago;
Para que não se julgue que isto são apenas teorizações, fica aqui um exemplo do que acontece em Pequim (ver min. 5.50).

Pontos a favor:
- Eliminação de situações de incobráveis, aliviando sobremaneira os tribunais de centenas de milhares de processos;
- Redução dos consumos em utilities;

Lobbies contra:
- Estado recebe menos receita de impostos. P.ex., actualmente o IVA é pago independentemente de a operadora receber ou não do cliente.
- Empresas de utilities

sexta-feira, 18 de março de 2011

Rescaldo do protesto da "Geração à Rasca"

No rescaldo dos protestos de sábado dia 12 de Março como manifestação da chamada “Geração à Rasca”, é fundamental “parabenizar” os quatro impulsionadores iniciais do mesmo. Apesar de ter dúvidas quanto à total independência partidária do mesmo, isso é perfeitamente secundário.

Passando pelos pontos óbvios já sobejamente falados (movimentação da sociedade civil, carácter pacífico da mesma, heterogeneidade dos participantes) existiram duas coisas que me deixaram bastante apreensivo quanto ao estado a que Portugal chegou. A saber:

- 38 anos depois a canção “Tourada” do Fernando Tordo ainda é cantada em coro pelas ruas da Avenida da Liberdade durante uma manifestação. Diz muito sobre as mudanças que ocorreram em Portugal no entretanto.
- Pior que isso, foi ver de parte de uma pessoa jovem que estava no protesto, o seu imenso pavor a que fosse apanhada pelas imagens de alguma reportagem de televisão. Era funcionário público (professor). Que triste clima de medo e de auto-censura que se está a viver em Portugal.


Ps: Nos tempos aúreos da Stasi, chegava a haver cerca de um informador para cada 200 habitantes da RDA. Com a auto-censura que se está a instalar em Portugal, por este caminho ainda nos tornamos mais eficientes :(.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O erro de Sócrates


Ao abrir os jornais de hoje fomos surpreendidos por mais uma notícia sobre o TGV. Segundo o Diário Económico, “
o Governo tem uma nova versão para relançar a ponte do TGV”.
A ser verdade, trata-se de um enorme erro!
Não pelo facto de estudarmos este tipo de investimentos mas porque não estamos cientes da conjuntura económica do país. Não vou entrar na discussão sobre a utilidade de termos uma linha de TGV. Os estudos efectuados têm por base uma outra realidade económica e não sei até que ponto são baseados numa análise custo-beneficio correcta e isenta.
O que me preocupa é o timming destes anúncios:
Fará sentido divulgar este tipo de notícias para a comunicação social a menos de uma semana de termos uma pré-anunciada crise política e de eventualmente o leme do país poder mudar de mãos?
Fará algum sentido persistir na estratégia de obras públicas como forma de relançar a economia (a ser esse o objectivo), numa espécie de Keynesianismo do sec XXI, um dia depois do rating da República ter diminuído dois níveis?
Fará sentido, anunciar investimentos públicos megalómanos quando foi pedido um esforço aos contribuintes para ajudarem na redução do colossal deficit das contas publicas?
Fará ainda sentido persistir na teimosia do TGV quando estão previstas novas e penosas medidas de contenção para conseguir estabilizar as contas públicas e que sobrecarregam ainda mais as famílias e as empresas?
(…)
Penso que não! Não faz qualquer sentido! Este tipo de notícias aumenta a pressão sobre a economia nacional. Portugal apresenta-se nos mercados internacionais como país bipolar: Por um lado aumenta impostos, reduz salários e anuncia previsões de redução do deficit público. Por outro lado anuncia o TGV, congratula-se com vitórias obtidas à custa de medidas não aprovadas e radicaliza o discurso da crise em desespero pela situação a que o país chegou.
Dificilmente o PS ganhará as eleições e muito dificilmente teremos nos próximos anos um TGV. Mas este tipo de notícias são autênticos tiros nos pés de um país cujos governantes preferem levitar em vez de manterem os pés assentes na terra. Ou então, e mais grave ainda, na luta partidária vale tudo, mesmo deixar o país na ruína sempre que se perspectiva que serão os outros que terão de resolver o problema!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Democracia? Onde? Em Portugal? - adenda

Com os mais recentes eventos, tenho de fazer aqui um mea-culpa pelo meu lapso aquando da apresentação das alternativas face à ausência de um estado democrático em Portugal. Mencionei autocracia, cleptocracia, partidocracia, mas faltou-me algo que começa por “f” e acaba em “lismo”.

Então na 6ª feira passada o país é informado pelo Governo daquela forma em Bruxelas que vamos pagar mais impostos devido ao PEC IV, onde ficou espelhado (se mais confirmações fossem necessárias) o respeito que têm pelo país? Eu sinceramente, cada vez mais me sinto como as gentes da época medieval, onde a sua vida enquanto servos era regida por um mui iluminado e autoritário Senhor que basicamente o que fazia era cobrar impostos. E de tempos a tempos esse Senhor tinha de ir prestar contas ao Rei (nos tempos modernos a União Europeia). Chama-se a isto Feudalismo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Segundo mandato presidencial? Porquê?

Hoje toma posse o novo Presidente da República Cavaco Silva. Sucede ao anterior chefe de Estado Aníbal Silva.
Aparentemente nada de novo nesta suposta “evolução na continuidade”. Além do mais, é tradição que o Presidente da República seja reeleito e que seja apenas no seu segundo mandato que deixe a marca pessoal. Assim aconteceu com Soares, com Sampaio e agora com Cavaco.
Ou seja, temos 5 anos de quase-inação e cinco anos de acção presidencial propriamente dita. É um sistema político sazonalmente fraco (de cinco em cinco anos) em que o Presidente se auto-censura com o objectivo de manter o seu status quo por um período máximo de 10 anos.
Qual é a lógica termos uma Constituição que permite a reeleição do Presidente da República?
Em meu ver, não há qualquer lógica!
O nosso sistema político não atribui poderes governativos ao Presidente da República (numa espécie de Presidencialismo de Primeiro-ministro). Não temos o argumento que um mandato apenas não permitiria continuar o trabalho feito. A principal função do Presidente é a de árbitro do sistema político. Uma espécie de chairman do país, com funções meramente institucionais.
O custo de termos reeleições na Presidência da República é elevadíssimo. São cinco anos de gestão política e de “pancadinhas nas costas” para não ferir susceptibilidades. Cinco anos a aguardar que venha o segundo mandato, a gerir a imagem e os resultados das sondagens. Cinco anos a marcar passo.
Então, porque não limitamos a eleição do Presidente da República a apenas um mandato?
Se o Presidente tem incentivos perversos em se auto-controlar nas mais diferentes tomadas de posição durante o primeiro mandato, porque não ir à raiz do problema e anular esses incentivos? Não está em causa o Presidente nem o Prof. Cavaco Silva. Apenas o sistema terá de ser revisto em prol de uma maior eficiência política.
Num contexto de modernização institucional, fará todo o sentido rever a possibilidade do Presidente se poder recandidatar. Admito até que o mandato presidencial possa passar de 5 para 6 ou mesmo 7 anos. Mas julgo que é desajustado termos um país com um Presidente que gere a imagem nos primeiros 5 anos e que apenas no segundo mandato exerce a sua magistratura com plenos poderes, sem receio de eleições ou sem risco de colocar em causa o seu status quo!
Para comprovar o que digo, poderão consultar aqui algumas das ideias, avisos e promessas do novo Presidente da República. Qualquer semelhança com a pessoa que esteve nos últimos 5 anos em Belém, será pura coincidência.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Portugal visto na perspectiva da BBC News

Acabei de ver uma pequena reportagem feita pela BBC News. A mesma, com o título de "Portugal faces strain in economic revolution" pode ser vista aqui. Entre as várias pessoas entrevistadas, achei curioso o facto do Anacleto Louçã soar muito menos agressivo quando fala inglês (as ideias essas não mudam).
Mas também entrevistou o Ministro da Economia, Vieira da Silva, que foi apresentado como o homem que tem de implementar a austeridade. Aqui fica o que o jornalista escolheu da conversa com ele:

"Jornalista: Will Portugal avoid a bail-out?
Vieira da Silva: We (?) have decided not to do it. I think we are winning the battles we have to in. 
Jornalista: What would be so wrong with accepting a bail-out? Drawing a line on the european crisis, going inside the fortress and finally defeating the financial markets.
Vieira da Silva: Do you believe that? Every..uhh..there is ahhh...there is....everyone....in the present says, believes that it will be the end of the eurozone crisis.(pause) i don't think so. I use sometimes an image: we are in the middle of a bridge. (pause) In the...from the side where we came from is the side of an economy based on low wages, on low technology, and the other side of the bridge is a different economy, with a high level of knowledge, a high level...ahh high, oh..a higher level of education, of..the...with more add value in the products and exports. And we are in the middle of that bridge. The question uhh we can go back. Because the other side is not there!"

Nem vou comentar estas palavras. São suficientemente eloquentes. Apenas gostaria de referir a injustiça a que os nossos governantes são sujeitos quando se diz que não têm feito cortes. A entrevista decorreu num gabinete de um edifício antigo e praticamente às escuras. Que bela imagem de modernidade que deu, sim senhores.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Onde estão os economistas do manifesto a favor das obras públicas?


Hoje Portugal vai em peregrinação a Berlim. Não é apenas o Primeiro-ministro. Vai também o Ministro das Finanças e, com ele, todos os contribuintes do país.
Vamos cabisbaixos, de joelhos e com o peso da culpa de quem se portou mal, de quem reconhece o erro mas que irracionalmente voltaria a errar se estivesse em posição de mudar as palermices do passado. Sabíamos que o défice tinha de ficar abaixo dos 3% mas chegámos aos 9%. Aceitámos manter uma divida pública abaixo dos 70% mas andamos próximo dos 90%...
Gastámos dinheiro que não tínhamos, prometemos mundos e fundos e aproximámo-nos do abismo com um deficit colossal e uma divida pública ainda por quantificar correctamente.
Algumas pessoas avisaram para este cenário. Outros, chamaram-lhes velhos do Restelo e chutaram para canto. Assumiram as divergências e deram a cara por manifestos de índole keynesiana e a favor dos grandes investimentos. Usaram o título de economistas para credibilizarem as suas posições faraónicas. Diziam que o endividamento não devia colocar em causa os investimentos e o futuro do país. O título do documento era «Portugal necessita de investimento público estratégico. Parar é sacrificar o futuro».
A minha pergunta é onde estão agora esses economistas?
Nesta hora em que rastejamos até Berlim, o que é feito destes optimistas de vocação que assinaram tal documento?
Não tenhamos memória curta! Os nomes são públicos (basta clicar no link acima transcrito). Alguns estão no Governo, outros em empresas públicas, construtoras…
O princípio da responsabilidade deveria impeli-los de assumirem o erro do manifesto que escreveram, a falácia do princípio que enunciaram e a renúncia às contas que obviamente não fizeram para apoiar as suas posições.
Aqui neste blog não esquecemos estes documentos nem os seus autores. Porque um manifesto não pode ser apenas uma forma de ganhar notoriedade e, enganando os portugueses, ganhar eleições a qualquer preço.
“Parar é sacrificar o futuro!” (diziam no final do manifesto)
Mas não ver o problema não será residir na mediocridade de quem prefere não saber (e ser falacioso), do que admitir a realidade!

terça-feira, 1 de março de 2011

Prós e Contras - Geração Parva

Ontem o programa "Prós e Contras" foi dedicado ao assunto da Geração Parva. Como o sono tem prioridade, só hoje vi em podcast o mesmo. Bem espremido, aquilo não deu muito, aliás como é apanágio do programa. Por defeito, foquei-me nas palavras de um dos convidados, o director da Nova School of Business and Economics (Nova SBE, não confundir com nova BSE).

Quase no fim do programa enunciou três factores (de facto foram 4, mas o último considero que seja menor) que levam a esta precaridade dos jovens. Nada de novo ele disse, mas ao menos teve a grande vantagem de ter sido feito de forma clara, pausada e em sequência. Ideias para a resolução de cada um deles dá para fazer uns 100 Prós e Contras. Citando, foi mais ou menos isto:

"Eu acho que a situação que a juventude vive (....) não é um produto de falta de intervenção do Estado, mas é um produto de excesso de intervenção do Estado. Cito quatro aspectos do excesso de intervenção do Estado. Um é um mercado de trabalho extremamente anquilosado. (....) Segundo é um mercado de habitação para arrendamento que não existe, que dificulta a mobilidade regional dos jovens e que dificulta a saida dos jovens da casa dos pais. Não é razoável que a primeira casa tenha de ser comprada. Em todo o mundo a primeira casa é uma casa alugada. (....) Devem exigir a redução dos custos laborais que não são salariais, devem exigir a redução das contribuições das entidades patronais para a segurança social"  

Mas, praticamente no início, houve ali uma linha de raciocínio que sinceramente me escapou. Primeiro a citação, e depois algumas dúvidas:

"Não devemos entender que qualquer formação em qualquer escola nos deve dar direito ao exercício de uma profissão para a qual aparentemente estamos qualificados. Eu acho que os jovens têm de se habituar a desempenhar funções que não correspondem necessariamente à sua licenciatura. A licenciatura tem de ser encarada como uma formação genérica, como uma formação que nos dá aptidões para fazer várias coisas.  (....) Eu vivi uns anos nos EUA e os vendedores de carros tinham sempre um curso superior. Isto não é mau, a sociedade é melhor assim. Pessoas mais educadas tornam-nos todos mais produtivos, tornam uma sociedade mais agradável de se viver. O que não devemos é associar o facto de eu ter o curso A, na escola Z, a algum direito de exercer necessariamente alguma profissão nessa área. Porque ao fim e ao cabo, as pessoas escolhem os cursos com total liberdade, o Estado paga os cursos que as pessoas escolhem com a mesma generosidade. Não se pode é forçar as pessoas a empregarem as pessoas que de facto não têm as aptidões que o mercado requere."

Portanto, se eu percebo bem, o que ele advoga é que se ande a estudar 15 anos, para no fim se ter uma formação "genérica"?? E eu que pensava que alguém ao escolher medicina se estava a especializar numa área. E quem diz medicina, diz física, literatura inglesa, engenheiro agrónomo, etc. Qual a racionalidade económica de um Estado investir dinheiro em universidades, de modo a dar formação especializada aos estudantes, se depois eles (ou pelo menos a maioria) não forem trabalhar para essa área. Imagine-se por exemplo o desperdício que não seria se dos 180 ou 200 alunos que todos os anos entram para Economia na faculdade deste reitor (que aparentemente não tem problemas de empregabilidade, se bem que me dava jeito saber qual a mediana salarial), só uns 20 ou 30 acabem por de facto vir a trabalhar em funções relacionadas com Economia. Tendo os restantes de desempenhar funções em auditoras, na parte comercial de bancos, enfim, num contexto onde as curvas da procura e da oferta, assim como pontos de equilíbrio não são propriamente usadas no dia a dia. A mim palpita-me a um grande desperdício de recursos escassos, se no final de uma licenciatura ou mestrado, a pessoa não tenha oportunidade de trabalhar na área para a qual estudou. Se essa situação é persistente e recorrente, então que se acabe ou reduza drasticamente as vagas nesses cursos. Agora defender "formação genérica" ao nível do ensino superior soa-me ao eduquês da formação com base em competências.... 
Ps: Para vos poupar uma ida ao dicionário, anquilosado significa atrofiado.