quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Political coaching

Nos EUA existe desde há muito o conceito do "Fat-Camp", onde se colocam os miúdos badochas num sítio complexo e se obriga os mesmos a fazerem exercício e comerem melhor durante essa(s) semana(s) de estadia para ver se emagrecem.

Eu entendo que um raciocínio similar poderia ser aplicado à larga maioria dos políticos de Portugal. Por exemplo, imagina-se um indivíduo que nasceu no seio da elite de uma qualquer cidade do interior, tirou um semi-curso superior, esteve a receber salário de uma entidade pública no interior durante uns quantos poucos anos (enquanto que o verdadeiro trabalho era ligado à actividade partidária) e depois ocupou cargos da mais elevada responsabilidade política nacional. Que conhecimento tem essa pessoa da vida real? Não seria ideal fazer com que essa pessoa pudesse viver durante um mês como um português médio? Podia assumir o papel de um pai de família, com dois filhos menores e esposa desempregada, a viver no Cacém e a trabalhar como comissionista numa empresa de materiais de construção (para com dificuldade conseguir levar para casa 1000 Eur/mês) de modo a que saiba o quanto custa a vida a quem trabalha no sector privado.

Como eu sei que a minha ideia é de difícil exequibilidade, uma alternativa poderá passar por termos programas de coaching para o Primeiro Ministro ou para o Presidente da República. No caso do PM, até o Ministro das Finanças da Eslováquia poderia ser o Coach. Por exemplo, de cada vez que o PM pensasse em lançar obras públicas megalómanas e inúteis para estimular a economia, o coach Eslovaco lembraria que se calhar o melhor era mas é cancelar essas obras públicas de modo a reduzir o endividamento (como a Eslováquia fez com os projectos de auto-estradas que tinha). Ou quando fizesse um esquiço de 50 medidas mal amanhadas para dinamizar a economia, o coach diria para se deixar de tretas e não anunciar intenções futuras porque isso não seria levado a sério.

Para o PR, o coach poderia vir do país vizinho a esse sítio de agricultores que agora viraram montadores de automóveis, ou seja, da República Checa. O presidente da República Checa forneceria coaching muito útil para que o PR abandonasse o wishful thinking e se preocupasse mais com o facto de termos um défice orçamental astronómico. Se há o business-coach, o nutrition-coach, porque não o político-coach? Até podia ser um coach somente por 15 dias. Se fossem 15 dias à séria, valeria mais do que todo o 2010.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O semáforo laranja e a sua influência na redução do défice público português

Todos os dias cruzo como peão a Avenida da República em Lisboa. Em todos esses dias vejo carros passarem semáforos vermelhos e condutores malabaristas que insistem em falar ao telemóvel enquanto conduzem. Mais “interessante” é verificar que alguns passam os sinais vermelhos enquanto conduzem com o telemóvel na mão (para não falar dos que ainda fumam ao mesmo tempo) … autênticos malabaristas do volante!
Não é fácil para um peão confiar nos semáforos verdes que permitem a sua passagem nas passadeiras e não é igualmente fácil para os automobilistas das faixas de rodagem contrárias circularem com segurança.
Este é um fenómeno que piora a cada dia que passa. Aliás, como os automobilistas estão habituados a “queimar” sinais vermelhos, quando um condutor trava no sinal laranja, arrisca-se a ouvir insultos e buzinadelas, para não falar dos riscos em sofrer alguma batida de quem vem atrás.
Para além da insegurança associada a esta questão, de um ponto de vista moral e económico, custa-me que as forças de autoridade não controlem este tipo de comportamentos. Parece-me muito mais “saudável” que o governo tente reduzir o défice às custas dos prevaricadores do que venha no final do mês reduzir o ordenado a quem tenta ser produtivo. Claro que não seria suficiente para colocar o défice em 0% do PIB e a rentabilidade marginal de uma política de caça à multa seria decrescente (um condutor previamente multado por este comportamento terá menor incentivo a continuar a prevaricar).
Ainda assim, esta é apenas uma ideia para aumentar as receitas do Estado à medida que se protegem também os cidadãos. Basta que coloquem um polícia (que até pode estar sentado) na Av. Da República em Lisboa, e que tome nota destes comportamentos de risco.
Se eu vejo várias situações deste género todos os dias e apenas fico momentaneamente parado no semáforo vermelho para peões (e mais 5 ou 10 segundos de “tolerância” para que os automobilistas artistas que passam no vermelho não me atropelem), imaginem quanto não poderia o Estado ganhar ao fim de um dia de coimas? E agora imaginem se este tipo de actuação se multiplicasse por outros tipos de comportamento em muitos outros pontos do país?
Afinal de contas, a lei é ou não para se fazer cumprir?

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

E se o Natal fosse todos os dias?

É inevitável! Depois do Natal, lá ouvimos a velha máxima: “o Natal devia ser todos os dias” (ou, na versão alternativa “quando o homem quiser”!)
Se aparentemente esse desejo pode parecer inofensivo, solidário e ternurento, analisado em detalhe talvez não o seja.
O Natal não é só estar em família, ir à missa do galo, reunir as populações em torno dos lumes comunitários nas aldeias e alguns doces. Essa é a história daquilo que já foi o Natal!
Hoje em dia o Natal é também sinónimo de prendas, consumismo, gastos supérfluos, muito lixo e reduzida produtividade.
Se o Natal fosse todos os dias haveria prendas diárias? Prateleiras constantemente vazias nos supermercados? Caixotes do lixo cheios eternamente? Pessoas sem produzirem a vida toda? Levantamentos no Multibanco como se não houvesse amanhã? (Apesar da “crise”, até dia 21/12, a SIBS registou 76 Milhões de movimentos na rede Multibanco, o que representou levantamentos de cerca de €4.000.000.000 (um crescimento de 4.3% em valor face a 2009).
Certamente que quem defende que o Natal devia ser todos os dias não pensou nisto. Mas se reflectirmos sobre o assunto, será que queríamos que tal acontecesse? Ou só dizemos isso por graça e por pensarmos na parte solidária e humana do Natal?
Ou seja, mantemos o ditado do passado mas no contexto do presente!
Felizmente (ou infelizmente) não me parece que racionalmente queiramos um Natal todos os dias! Eu não quero que o Natal seja todos os dias! Uma vez por ano é suficiente!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ensino em Portugal - take I

Todos nós já ouvimos até à exaustão o cliché de que antigamente é que havia bom ensino, que se sabiam fazer contas, que o antigo 7º ano equivale agora quase à qualidade de uma Licenciatura, etc, etc, etc. Algumas pessoas decerto pensam que constitui então um enigma como tão talentosa geração “não rasca” teve um desempenho abaixo de medíocre à frente do destino de Portugal. Mas focando-nos no ensino, tome-se como exemplo a qualidade do Ensino Superior pós-graduado na área de Gestão. Do meu conhecimento, e salvo raras excepções, podemos observar o seguinte:

- A expressão “corpo docente previsto” serve em muitos casos como engodo, tendo nomes sonantes como putativos docentes, vindo depois a verificar-se que por indisponibilidade de agenda alguns deles serão substituídos por assistentes;
- A larga maioria das aulas, consiste num indivíduo a debitar o conteúdo auto-explicativo da apresentação power-point que vai sendo projectada. A alternativa óbvia e pedagógica seria disponibilizar essas apresentações auto-explicativas antes da aula, assim como casos de estudo para esses sim serem discutidos na aula. Mas claro que isso daria muito mais trabalho pela discussão que existiria;
- O feedback de trabalhos, frequências ou exames resume-se a um número correspondente a uma nota avaliativa. Ensinar sobre o que faltou fazer, de forma a que o aluno não volte a repetir o erro…..é raro;
- Apesar dos largos milhares de Euros recebidos em propinas, nem sequer existem nas bibliotecas das universidades os livros que constam da bibliografia recomendada para as várias disciplinas;

Acho que estes exemplos bastam para ilustrar que se os alunos que temos são maus (que o são na sua generalidade), a culpa não é nem pouco mais ou menos somente deles. Nitidamente há aqui um grande conflito de interesses da parte de quem “ensina”. Uma pessoa cínica poderá pensar que de facto até nem querem que os alunos aprendam, mas sim apenas fazer uma negociata. Ou então isto é o melhor que conseguem fazer. Ambas as opções são péssimas. E depois ainda se ouve muitos armados ao pingarelho a referir que no tempo deles é que se aprendia “à séria”.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Democracia? Onde? Em Portugal?

Porque cada vez mais, e finalmente, se começa a ouvir falar de mais alta voz de que a democracia portuguesa é uma anedota, acho que é útil tentar perceber então em que sistema político está Portugal metido. Recorrendo à “sapiência” da Wikipedia, a mesma informa-nos que: “Democracia é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos”. Alguém sensato acha que a forma como o orçamento de Estado foi caldeirad…negociado, traduz um processo democrático? Então temos um líder partidário (que só foi eleito pelos seus colegas de partido), que delega num senhor de cabelo branco (que também não foi sujeito a nenhum escrutínio do povo) a negociação em casa deste do orçamento de Estado. Na “democracia” portuguesa esse papel compete aos deputados da Assembleia da República. Por isso, exclui-se a hipótese democracia.

Também não pode ser uma Autocracia, caramba. Acho que nem a Coreia do Norte se encaixa em autocracia. Uma Ditadura, em alguns aspectos pontuais já não anda muito longe, pois sinto que algumas coisas que os governantes fazem em Portugal não têm exactamente o consentimento dos cidadãos.

Um sistema muito em voga em países com os quais temos fortes afinidades históricas e culturais é a Cleptocracia. O significado literal desta palavra de origem grega é “Estado governado por ladrões”. De novo citando, à falta de paciência para algo mais académico, a Wikipedia, “…a cleptocracia ocorre quando uma nação deixa de ser governada por um Estado de Direito imparcial e passa a ser governada pelo poder discricionário de pessoas que tomaram o poder político nos diversos níveis e que conseguem transfomar esse poder político em valor económico, por diversos modos”. Está a ficar quente. Isto é algo que acho que encaixa em muitas situações.

Todavia, o melhor termo será mesmo uma Partidocracia, que como o nome deixa entender traduz a entrega de poder aos partidos políticos. Porque não vale a pena inventar a roda, alguns já falaram sobre este tema (mas a maioria ainda anda enganado ou está-se nas tintas), portanto para quem queira ler um pouco mais está aqui a opinião do Nuno Garoupa e aqui a de Carlos Loures, p. ex..    

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Portugal....PIB ppc - o 15º mais elevado da UE-15

No dia de ontem o Jornal de Negócios anunciava no seu site que “O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou o relatório de paridades de poder de compra referente a 2009”. Eu fui consultar o INE, e no relatório deles estava identificado como “Produto Interno Bruto per capita expresso em Paridades de Poder de Compra”. Ok, pronto o jornal abreviou a coisa. Mas será que tomar a capacidade produtiva de uma pessoa ou o seu poder de compra como sinónimos é correcto? Deixo a pergunta em aberto.

E o que é que podemos observar? Desde logo que dos países da UE-15 somos destacadamente o menos produtivo. Mas mais. A distância que nos separa da Grécia é equivalente àquela que a Croácia (um país que nem sequer está na UE) tem face a nós. Ou se preferirmos, estamos mais longe de Espanha, do que a Polónia de Portugal. A piéce de resistance, é a maneira como está explicitada através desta estatística a nossa diferença face à Irlanda.
Abaixo fica um quadro parcial, extraido daqui:

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A falta de açúcar ou um golpe publicitário de mestre?


Provavelmente nunca se saberá (aliás, como convém) onde teve origem o boato/noticia da escassez de açúcar no mercado português.
Terão sido estatísticas? Fugas de informação? Passa-palavra? Ou terá sido uma forma espectacular de incrementar as vendas?
O que se sabe é que, de um momento para o outro, começou a corrida ao açúcar e os stocks esgotaram. Mesmo quem não precisava deste bem, correu às lojas para aumentar as reservas caseiras.
Então, porque é que isto aconteceu?
De um ponto de vista lógico, Natal é sinónimo de doces e sem açúcar não há doces. Logo, para muitas pessoas, não há Natal sem açúcar. Se os boatos surgissem em Setembro ou Outubro, dificilmente teríamos falta desta matéria-prima mas, por algum motivo, foram divulgados em Dezembro!
Nenhuma campanha publicitária teria um maior impacto nas vendas das empresas produtoras e distribuidoras de açúcar. Aposto até que, se essas campanhas tivessem a participação de personalidades mediáticas como Ronaldo ou Mourinho, os resultados não teriam sido tão espectaculares.
O comportamento de rebanho que motivou esta ruptura de stocks deve dar que pensar às grandes empresas publicitárias e aos criativos de conteúdos. Primeiro porque não tem muita racionalidade e em segundo lugar porque dispensa gastos de milhões de euros. Por outro lado, as empresas (e mesmo os partidos políticos) deveriam ter nos seus quadros experts na criação destes movimentos de massas. A veiculação da notícia certa no momento exacto pode ser, nos dias de hoje, fundamental para obter sucesso nos negócios ou mesmo para ganhar eleições (como pode levar ao fracasso se for a noticia errada no momento critico). O Marketing tradicional não pode ficar alheio a estes golpes de mestre!
Claro que no caso do açúcar tivemos vários factores conjugados: Timing perfeito, produto homogéneo, bem de consumo, notícias alarmantes e uma ou outra loja vazia. E de nada serviram as reportagens televisivas que mostraram grandes armazéns cheios de açúcar e barcos de várias toneladas deste produto a descarregar em Portugal.
Será isto uma grande teoria da conspiração? Estou certo que não! Mas é sem dúvida uma “forma de comunicação” que, não sendo inovadora, produz resultados surpreendentes!
O que aconteceria então se idênticas noticias ou boatos tivessem sido divulgados acerca do bacalhau, da farinha, das passas ou do espumante? Provavelmente o resultado seria semelhante. No entanto, só funcionaria se a teoria fosse aplicada a estes produtos de forma disjuntiva. No caso do açúcar, a ver vamos se a febre consumista ficará por aqui ou se iremos assistir também à corrida aos pacotinhos distribuídos nos cafés (para mal de muitos coleccionadores). É que não sabemos como se iniciam estes movimentos mas mais difícil ainda é saber onde acabarão…

Tempo de balanço sobre o desempenho do José

Lembro-me como se fosse ontem o dia em que se confirmou que um dos mais altos governantes do meu país, eleito pela população, se ia demitir porque lhe tinham oferecido um lugar mais do seu agrado na União Europeia. E saiu tão depressa que se calhar nem tempo teve para limpar o gabinete, quanto mais garantir uma transição o mais suave possível de modo a não prejudicar o seu empregador. Admito que palavras como desertor, judas, cobarde, egocêntrico ou irresponsável foram por mim usadas de forma mais repetida durante esses meses para descrever esta situação.

Só dava por mim a pensar que a função que ele tinha trocado o seu país não mais era do que uma espécie de concierge da UE, e que nada de positivo isso traria para o país (mesmo sem pensar a quem ele tinha deixado o seu posto em Portugal, porque isso dava tema para outro post). Porém, eu estava num lado minoritário, pois a maioria dos portugueses exaltava com a honra e a importância que teria para Portugal ter um português num alto cargo deste tipo na UE. Mas os anos passaram, e acho que agora com a devida distância, é possível fazer uma avaliação mais ponderada.

Os tempos atribulados que vivemos têm mostrado a importância da sua acção no seio da EU, conjuntamente com os seus igualmente poderosos colegas belga e inglesa respectivamente, e como Portugal tem beneficiado do seu trabalho na UE. Para quem argumentava que o seu cargo não tinha nenhum poder executivo e era algo meramente representativo (e equiparado a um presidente da ONU, cujo raio de poder é difícil de descrever), os anos que já passaram deram oportunidade suficiente para consolidar o balanço que a decisão deste indivíduo teve para Portugal. E o balanço é tão inequívoco que nem vale a pena acrescentar mais nada.   

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Exportar é vender ou receber?

Os nossos “sábios” de serviço, que diga-se de passagem no seu curriculum público sobressai um conhecimento nulo do que é trabalhar numa empresa, não se cansam de apontar como caminho de saída para Portugal o aumento das exportações. Se passarmos por cima da importantíssima questão de que para equilibrar a balança comercial também se podia pensar em substituir algumas importações por produção nacional (como p.ex. a escandalosa situação de importarmos metade do azeite que consumimos) outras questões interessantes merecem atenção.

Em primeiro lugar, julgo que todos os empresários que têm empresas que podem exportar dispensam de bom grado que lhes apontem o óbvio. Com um mercado nacional totalmente anémico e de dimensão reduzida, claro que têm de procurar vender noutros mercados. O que eles necessitam de ouvir são medidas concretas sobre como ajudar as empresas portuguesas a serem mais competitivas (exactamente o oposto de aumentos no preço da electricidade para grandes empresas em 15%). Com combustíveis caros, electricidade cara, uma legislação laboral hiper-rígida, um sistema fiscal abusador (face à qualidade de serviço público prestado), falta de mão-de-obra especializada (ao invés de juristas ou licenciados em comunicação social que acho que já temos para o resto do milénio), ou com um sistema de transporte desajustado, é difícil ser competitivo. A não ser que….

…..se decida apostar no incremento de exportações para mercados menos desenvolvidos e com menor concorrência. Mas como diz a expressão “the road less travelled, is less travelled for a reason”. E acho que muitos destes “sábios” que tanto aconselham os empresários a exportar para países como Angola, Líbia, Venezuela e outros da mesma estirpe não sabem sequer a diferença entre facturação e recebimento. A questão retórica é portanto esta: vale a pena estar a exportar (ie. facturar) para países cujo recebimento depois depende de visitas do Ministro das Finanças, do Ministro das Obras Públicas, do Primeiro Ministro, do Presidente da República e mesmo assim nenhuma destes senhores consegue que as empresas portuguesas recebam (e possam transferir para Portugal) o valor dessas exportações? Se um Presidente de Portugal não consegue que uma empresa governamental de um outro país pague o que deve, que hipótese tem essa pobre empresa? Até porque para caloteiro, já basta o governo português.  

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Imaginar um Portugal melhor

Imaginem um país onde os políticos defendem os cidadãos e não os partidos!
Imaginem um país onde os deputados votam em prol do seu círculo eleitoral e não obrigados por disciplinas de voto!
Imaginem um país em que os impostos têm como objectivo a redistribuição de riqueza a quem mais precisa!
Imaginem um país com ética na política e políticos com ética!
Imaginem um país onde a meritocracia se impõe às cunhas!
Imaginem um país onde a corrupção e o compadrio são histórias do passado!
Imaginem um país seguro e em que os bandidos são efectivamente presos!
Imaginem um país em que as forças da autoridade têm realmente alguma autoridade!
Imaginem um país sem gastos supérfluos e onde os funcionários públicos são respeitados e se fazem respeitar!
Imaginem um país equilibrado e em que o Estado promove o desenvolvimento integrado de todo o território!
Imaginem um país sem excepções para lobbies, regiões administrativas, classes sociais ou empresas!
Imaginem um país desenvolvido, sustentável e um exemplo para os seus pares!
Imaginem um país com uma liderança capaz dos desafios, ambiciosa e realista!
Imaginem um país onde os cidadãos respeitam os antepassados e o património histórico!
Imaginem um país capaz de atrair empresas pelo dinamismo económico e não pelos salários baixos!
Imaginem um país vanguardista, sem truques para maximizar a sua posição nos rankings!
Imaginem um país onde a Justiça seria justa!
Imaginem um país com imaginação e sem necessidade de copiar os maus exemplos económicos e sociais de outros….

Eu imagino um país assim! Será esse país Portugal? Por agora seguramente que não mas acredito que um dia poderá ser desta forma, haja vontade, ambição e capacidade dos políticos, e disponibilidade dos cidadãos para que tal aconteça.
Imaginar um país assim até pode ser uma utopia nos dias que correm mas enquanto a imaginação não pague imposto, deixem-me sonhar e acreditar que Portugal pode ser um país melhor e mais equilibrado!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Equi..... quê??

Alguém veio a terreno dizer que o regime compensatório para os funcionários públicos dos Açores poderá ser inconstitucional, violando o princípio da equidade na tributação dos rendimentos dos cidadãos. Ora, eu entendo que tudo isto pode ser resolvido através de uma mudança na Constituição, de modo a que os pobres funcionários públicos que ganham 2000 Eur não sejam penalizados.  

Até seria algo fácil de fazer, porque um dos responsáveis por fazer aprovar essa lei já tem experiência em situações que alegadamente indiciam violação grosseira do princípio da equidade, como sejam a acumulação de várias reformas. Como isto é uma república de (e das) bananas, ainda não se ouviu ninguém ripostar a esta dúvida sobre equidade com a seguinte pergunta: como pode alguém que recebe (neste momento) três reformas pelo trabalho em entidades públicas e ainda um salário público sequer atrever-se a falar em….equidade? Mas como a extensa maioria dos nossos políticos tem (ou almeja ter) os mesmos telhados de vidro, há um silêncio ensurdecedor sobre a tamanha cara-de-pau de quem proferiu esta afirmação.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Regime compensatório dos Açores, as excepções e o (des) esclarecimentos e a transferência acelerada de quadros é uma moda para ficar.

Redução remuneratória abrange toda a Administração Pública?

Bem aqui surgem as primeiras dúvidas sobre geografia e igualdade.

De acordo com o decreto regional que compensa os funcionários públicos dos Açores pelos cortes salariais previstos para 2011, coloca em causa o princípio da igualdade preconizado pela pela Constituição e realça o que de “chico-espertismo” abunda por aí.
Devemos pautar-nos pelos princípio da igualdade, da proporcionalidade e da equidade que devem estar presentes numa área tão sensível e delicada como aquela que pela primeira vez fala em cortes salariais e de cortes nas expectativas das pessoas.
Ora se é de Portugal que estamos a falar, são medidas de âmbito nacional e que me recorde nenhum dos arquipélagos clamou independência.

Relembro que Orçamento do Estado para 2011 prevê que os salários acima de 1550 euros terão uma redução entre 3,5 e 10 por cento a partir de Janeiro do próximo ano. Para compensar o corte, a assembleia legislativa dos Açores aprovou uma norma que compensa os funcionários que recebem entre 1500 e 2000 euros mensais, protegendo, argumenta Carlos César, os rendimentos mais baixos. Ora rendimentos mais baixos entre 1500 e 2000 euros? Estamos a falar de no mínimo três vezes o salário mínimo que tabela cerca de 700 mil Portugueses e centenas de milhar de reformas estão abaixo desta fasquia.

Trata-se sem dúvida de uma provocação para todos os que estão a apertar o cinto… O Estado a gastar e a engordar e os Portugueses a emagrecerem e a diminuírem os seus orçamentos. Ou seja, há mais de três mil funcionários regionais dos Açores que não vão ter corte. É uma pouca vergonha, porque parece que há funcionários de primeira e de segunda. Apesar de polémico, um critério estabelecido para remunerações mensais elevadas face ao homem comum deve ser respeitado e as excepções abrem brechas e contribuem para a descredibilização da classe política.

O corte de salários é uma motivação adicional para a transferência de quadros qualificados do sector público para o privado, mas o fenómeno não se restringe ao sector público. No actual enquadramento de crise, iremos “assistir à transferência de talentos entre os sectores público e privado e entre empresas como nunca antes aconteceu", prognostica um especialista em RH.

Fica a questão: Há autoridade moral em cortar salários mais baixos e não cortar mais elevados? É de uma desonestidade política total…

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A geração dos 475 Euristas

Quando me decidi a estudar Economia, algures em 1994 ou 1995, viviam-se tempos áureos para os jovens que terminavam os seus cursos nas áreas de Economia e Gestão das Universidades “prestigiadas”. Lembro-me perfeitamente de ler a Revista Exame com páginas e páginas (daquilo que hoje sei que é publicity) a contar as carreiras meteóricas da malta. Vem isto a propósito de um processo de recrutamento que me chegou ao e-mail. Em suma diz o seguinte:

“- empresa no sector da Avaliação e Gestão Patrimonial procura Consultor;
- principais funções passam pela identificação junto dos clientes, dos activos imobilizados, sendo que a posteriori fará a reconciliação desses imobilizados com os dados contabilísticos de forma a determinar qual o património real da empresa.

- Procuramos Candidatos: Licenciados em Economia/Gestão/Contabilidade; Bons conhecimentos de Excel (sendo valorizado conhecimentos em Access); Boa apresentação pessoal; Disponibilidade para deslocações a nível nacional; Carta de condução.

- Oferecemos: Integração em equipa dinâmica e prestigiada; Horário: 09h00-18h00 de 2ªa 6ª; Local de Trabalho: Lisboa/Outros; Vencimento Base Mensal : 475€ + 5.23 Subsídio de Alimentação Diário” 

Para quem tenha dúvidas da veracidade, o link está aqui.

Isto não é fantasia. Pior mesmo é, como me aconteceu a mim em 2005 e com um ano de experiência profissional, ser chamado (e ir) para uma entrevista numa empresa de tecnologias de informação (localizada em Oeiras), e o salário proposto ser 600 e poucos Euros. Pensava eu que por ser uma empresa desta área iria propor um salário competitivo e mandam à parede uma bosta daquelas. Por cortesia não refiro qual a empresa em questão, mas começa por O e acaba em E, e ainda tem letras como RACL. Ao menos neste anúncio são bem claros: licenciado em Economia com salário mínimo e subsidio de alimentação para um trabalho que implica ainda por cima deslocações a nível nacional. PQP!!!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Afinal para que serve o feriado do 1º de Dezembro?

Ontem, 1 de Dezembro, feriado, celebrou-se o dia da Restauração da Independência de 1640. Numa estimativa conservadora, julgo que se 20% dos portugueses conseguirem articular mais de duas frases sobre este dia já é muito. O facto de comparativamente se dar muito mais importância a datas como o 25 de Abril ou o 5 de Outubro é algo que me causa tremendo desgos….desprezo. São datas importantes sem dúvida, mas julgo que não é pelo facto de terem ocorrido há menos tempo (e estarem mais frescas na memória) que mereçam mais destaque que o 1º de Dezembro. Porque se usarmos o critério temporal, então devia-se esquecer essa data de há mais de dois mil anos, como é o 25 de Dezembro.

Num país que se preze, a celebração da conquista (ou reconquista) da independência é uma ocasião anual ímpar para unir o povo. Por certo, p.ex., Bilbau ou Barcelona conseguiriam fazer melhor que Lisboa.

Que não se tenha sequer conseguido fazer uma manifestação de jeito por ocasião da cimeira da Nato não me tira o sono. Que tenha ocorrido uma greve, mas manifestações na rua não se viram (grevistas devem ter preferido ficar a ver o Goucha em casa) já é indecente. Agora, que no dia da Restauração da Independência não tenha ocorrido nenhuma celebração formal ou informal (ou pelo menos com cobertura dos media, nomeadamente RTP ou RDP) é abjecto. Será que é mesmo inexorável de que só a bola consegue unir os portugueses??? É isto a que se resume o país onde nasci? Basta apenas uma variante do pão e circo romano para gerir a plebe?

Nota: É irónico que as notícias principais de ontem fossem relacionadas com a base aérea estrangeira no nosso território ou a expectativa acerca dos resultados de uma candidatura ibérica à organização de um campeonato mundial de futebol.  

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Quem espera sempre alcança

Espero que a Irlanda, ao recorrer ao fundo da União Europeia, faça com que se normalize a situação nos mercados, porque Portugal estava a sofrer um nítido efeito de contágio”  - palavras do grande chefe.

Acreditamos que o défice estimado para 2011 vai ser atingido com o conjunto de medidas que o Governo propôs e que a Assembleia da República aprovou” – algures quando o Ministro que distribui subsídios do QREN e afins estava acordado.

“Ainda não perdi a esperança, porque, tanto quanto sei, o voto na Assembleia da República será dentro de alguns dias, e por isso espero que o assunto seja resolvido, para bem de Portugal e para bem dos portugueses” - pelo Relações Públicas da União Europeia em finais de Outubro sobre a falta de acordo entre PS e PSD.

Já diz o povo que quem espera sempre alcança. Ou que a esperança é a última que morre. Há também a variante de que enquanto há vida, há esperança. Tendo em conta a nossa cultura, são portanto normais estas palavras por parte de governantes portugueses. O que não invalida o facto de que era preferível ouvir coisas como “estamos a trabalhar para…”, “darei o meu melhor com vista a...”, “pelos nossos resultados e experiência passada estamos em condições de...”.
  
Até porque o mesmo povo também já diz que quem espera, desespera. E esperar por esperar, é melhor esperar sentado (que não cansa). Ou que ninguém vive só de esperanças.

Morte ao Keynesianismo

O Keynesianismo como política económica que defende o Estado intervencionista, através da qual os governos usam medidas fiscais e monetárias para mitigar os efeitos adversos dos ciclos económicos está ultrapassado.
Pelos exemplos vindos da actual crise, constatamos que os países com problemas optaram por uma política de cariz keynesiana para minimizar os problemas: Obras públicas e intervenção do estado na economia. Ora, chegados à actual conjuntura verifica-se que essas políticas não foram bem aplicadas e/ou não produziram os efeitos desejados. Pior ainda, os efeitos foram mais nefastos do que muitos poderiam imaginar.
A politica keynesiana teve um impacto positivo no pós II Guerra Mundial e os lideres políticos esperavam que pudesse ter o mesmo impacto nos nossos dias. No entanto, tal não aconteceu por diversos motivos:
Em primeiro lugar, a eficiência marginal do capital é decrescente em função do volume de intervenção do Estado na economia. Tratando-se de Estados fortemente endividados, era de supor que o impacto dos investimentos estatais pudesse ser até inferior ao próprio capital “investido”.
Em segundo lugar, a intervenção crescente do estado na economia não é sustentável em mercados de índole capitalista ou que privilegiem a concorrência, até porque o Keynesianismo defendia a intervenção nas áreas em que os privados não estavam dispostos a actuar (e não em todas como actualmente é utilizado).
Em terceiro lugar, o capital é um recurso limitado e cujo preço aumenta com base em determinados factores como o volume de endividamento do país, a reduzida produtividade e a incapacidade de dinamizar a economia pela via do sector empresarial.
Em quarto lugar, as economias dos países estão dependentes dos ciclos eleitorais. Qualquer governante pretende manter o seu próprio status quo (e do partido que representa). É portanto de esperar que exista uma forte pressão política para implementar medidas de natureza keynesiana a qualquer custo, mesmo que isso implique o default do país no futuro!
O modelo keynesiano até poderia funcionar nos nossos dias mas teríamos de ter nos Governos técnicos e não políticos, as Instituições teriam de ser eficientes (sem lobbies nem corrupção) e a eficiência marginal do capital teria de ser positiva no médio prazo.
Como estes dados não se verificam, o Keynesianismo como politica económica a seguir pelos Governos não funciona, não é sustentável e prejudica até o desenvolvimento dos países.
A única solução será adoptar rapidamente orçamentos de base zero, modernizar as Instituições, colocar os países a gastar dentro das suas possibilidades e diminuir a médio prazo as insustentáveis dividas públicas assumidas. Só assim os investidores (e essa entidade abstracta mas poderosa denominada Mercados) estarão dispostos a confiar nas estratégias utilizadas pelos Estados para ultrapassar a crise. Os países que mais se atrasarem a alterar os seus paradigmas serão os que terão mais dificuldades em obter funding no curto prazo e, portanto, em providenciar aos cidadãos a tão desejada retoma no médio prazo!

sábado, 27 de novembro de 2010

250 mil desempregados vão começar a ser chamados para o Novas Oportunidades

Um despacho publicado dia 25 autoriza o IEFP a “encaminhar” inscritos nos centros de emprego, com habilitações inferiores ao 12º ano e empregabilidade “pouco adequada”, para os centros onde existe o programa Novas Oportunidades.
O despacho não refere, porém, se a prioridade vai recair sobre desempregados com habilitações mais baixas ou se serão considerados mais urgentes os casos de pessoas com idades mais avançadas.
Questionado sobre se estas pessoas encaminhadas para os centros de novas oportunidades deixam de ser oficialmente desempregados, ou se desaparecem das estatísticas de desemprego do INE, o secretário de Estado respondeu “reiteradamente não”.

Façamos uma pequena resenha histórica sobre o subsídio de desemprego.
O subsídio de desemprego tem cumprido um indispensável papel como agente de protecção social ao desempregado nas sociedades industriais avançadas. Foi criado e aperfeiçoado no período que se seguiu à 2ª Guerra Mundial, representando um elemento importante para a construção do Estado Providência, fundamental para o desenvolvimento económico e, sobretudo, social dos países desenvolvidos. À data, o bom desempenho do subsídio de desemprego deveu-se ao aumento do trabalho assalariado, ao entusiasmo financeiro e à enérgica presença do Estado como organizador e executante de uma política que tinha como objectivo proporcionar que todos aqueles que quisessem trabalhar estivessem empregados. Além disso, os contratos de trabalho regulares, regulamentados por negociações colectivas sectoriais nacionais, proporcionavam estabilidade no emprego e salários aos trabalhadores, a par do crescimento económico.
Basicamente, para aqueles trabalhadores que perdessem o emprego, e durante a sua procura de outro, existia o subsídio de desemprego. Este instrumento cumpria duas funções:
• fornecia um rendimento ao trabalhador para que este pudesse manter sua qualidade de vida – e da sua família – no período em que estivesse sem emprego;
• evitava a queda nos níveis de consumo, considerando-se o conjunto dos trabalhadores desempregados. Ou seja, ao guarnecer o desempregado de rendimento, o subsídio de desemprego possibilitava o equilíbrio do consumo, evitando uma queda expressiva da procura que viesse a comprometer a política económica de pleno-emprego.

A sustentação do rendimento do desempregado era, assim, um mecanismo de protecção temporário e para acautelar um pequeno número de desempregados. Não fora concebido para enfrentar o desemprego em massa. Certamente, o subsídio de desemprego não era infindável e mesmo o valor do benefício era bem menor do que o salário do trabalhador enquanto este estava empregado.

A crise de meados dos anos 70 nos países industrializados, com o crescimento do desemprego, fragilizou os mecanismos de financiamento do Sistema de Protecção Social, tanto pelo aumento do número de pessoas a ser atendidas, como pela quebra nas receitas. Diante da crise, ganharam voz os críticos da presença activa do Estado como regulador e provedor social. Os governos conservadores que assumiram o poder abandonaram a política de pleno emprego que vigorara desde o fim da Segunda Guerra. A partir de então, as políticas sociais do Estado Providência, entre elas o subsídio de desemprego, foram colocadas em xeque como instrumentos de protecção. Ainda que haja ocorrido alguma redução de benefícios, as críticas ao Estado Social ficaram mais no discurso do que se converteram em acções de minimização dos instrumentos de protecção social.

O subsídio de desemprego sobreviveu, mas a sua eficácia, diante de elevadas taxas de desemprego, diminuiu. As mudanças que ocorreram no mercado de trabalho reduziram o poder de protecção ao trabalhador que o subsídio de desemprego tinha, o que pode acabar por fazer diminuir a sua função.

Segundo o Banco de Portugal, cada desempregado passa em média quase dois anos à procura de trabalho, o valor mais alto dos últimos 10 anos, e cerca de meio ano mais do que em 2001. Cinquenta por cento dos desempregados passam mais de um ano à procura de trabalho.
O problema reside na elevada cobertura financeira a que os Portugueses foram habituados e uma duração potencialmente grande do subsídio pago pela Segurança Social. Quer dizer: O desemprego de longa duração está a aumentar e esse crescimento é por vezes justificado com o regime do subsídio e o comodismo/”lapismo” típico.
Existem dois factores que influenciam decisivamente a proporção de desempregados de longa duração: a idade e a recepção de subsídio de desemprego, recordando o efeito "túnel do desemprego", isto é, a possibilidade oferecida pela Segurança Social aos desempregados de longa duração de anteciparem a sua reforma (DL n.º 220/2006).

Em 2009, quarenta mil pensionistas entraram na reforma antecipada em Portugal. Mas 51% dos novos reformados já não tinham trabalho há mais de um ano, tendo desistido de procurar emprego e requerido a saída da vida activa, a única forma de garantir sustento uma vez terminado o subsídio de desemprego. O peso dos desempregados nos novos reformados está a aumentar. Apesar do número de reformados com menos de 65 anos estar a baixar, o peso dos desempregados de longa duração no total de reformas antecipadas está a aumentar.

Claramente as políticas para reintegrar pessoas no mercado de trabalho não deram resultados e não serão nestes moldes que o farão. Em idades avançadas, os desempregados esperam até poder pedir a pensão e negligenciam o plano pessoal de emprego. Será que alguma vez funcionou?

Quanto a esta promiscuidade entre Desemprego / Novas Oportunidades resta relembrar que não é um sistema de ensino, porque pouco se aprende, é um proforma de negócio para algumas empresas privadas que vivem à sombra do orçamento do Estado. Torna-se vantajoso para alguns professores. É abismal para os alunos que reprovaram nos exames do final do ensino secundário, porque lhes permite aceder ao ensino superior sem fazer estes exames tornando-se injusto para os alunos do ensino secundário que são ultrapassados por pessoas pouco qualificadas.

Enfim, um tremendo desperdício num país à beira da bancarrota: ora num curso com estas características que a Agência Nacional para a Qualificação, I.P. investiu, em 2008, a “módica” quantia de 1,67 M€ na produção e distribuição de “nova imagem”. Se ficou abismado, então saiba que em 2009, o ano da crise ou da pós-crise ou da pré-crise, foram gastos 1,76 M€ na “avaliação” desses cursos e na sensibilização das entidades empregadoras para as “virtudes” dos ditos.

Já este ano, consultem: http://www.base.gov.pt/Paginas/Default.aspx . Mas deixo-vos um exemplo de mais um ajuste directo:
N.º Procedimento:
198995

NIF Nome entidade adjudicante
508208327 Agência Nacional para a Qualificação, I.P.


NIF Nome entidade adjudicatária
502903678 SWDAGENCY, LDA



Objecto do contrato:
Ajuste directo na sequência do Concurso Público para a concepção de uma campanha publicitária de mobilização de jovens e adultos para a qualificação, através da valorização do 12º ano, integrada na Iniciativa Novas Oportunidades - execução do trabalho de concepção

Data da celebração de contrato:
27-08-2010

Preço contratual :
1.000.000,00 €

Regime excepção redução de salários nas empresas públicas

Sobre o alegado regime de excepção para os salários nas empresas públicas, devo dizer que pertenço ao grupo daqueles que concordam com isso, pois as vantagens são várias.

Em primeiro lugar, colocar a decisão sobre o valor e as pessoas a quem reduzir salário ao juízo da administração contribuirá para espicaçar a malta. Discutir porque é que o Antunes da Contabilidade (que tem um salário menor) foi mais penalizado que a Cátia Vanessa dos Recursos Humanos é sempre salutar para aumentar o diálogo entre trabalhad….empregados. Vai também dar azo a coloridas manchetes no Correio da Manhã durante meses a fio.

Em segundo, o dogma de que empresas públicas são diferentes da administração pública ajuda a consolidar a ideia de funcionários públicos de primeira e de segunda. E pensar que más línguas apontam apenas como único desígnio de empresas públicas como uma Refer, Ana, Estradas de Portugal ou a Parque Escolar o serem apenas um esquema para reduzir a dívida pública declarada.

Por último, o melhor argumento para excepções: evitar a fuga de funcionários valiosos. Faz sentido! Quantos amigos que nós conhecemos que trabalham no Sector Empresarial do Estado (SEE) que não nos contaram já de directores que mal sabem abrir um e-mail e trabalhar em Excel (com sorte só se for a versão em português). Por isso, acho que qualquer empresa privada daria sangue e lágrimas para ter nos seus quadros alguém que chega a director nestas condições (só pode ser altamente talentoso noutras áreas). Pelo que se não existirem ajustes, antecipo uma fuga em massa de pessoas que ganham actualmente uns 3000 ou 4000 Eur no SEE para o sector privado ou mesmo fuga de "talentos" para o estrangeiro se lhes reduzirem o salário em 10%. Eu por exemplo, admiro-me bastante como aquele talentoso jovem ex-administrador da PT não emigrou para trabalhar numa Telefonica ou numa T-Mobile.

Além disso é necessário evitar que estas pessoas que dominam na perfeição os métodos de procura de emprego em Portugal se tornem competidores desiguais face ao pobre diabo que teve como escolha apostar numa sólida formação académica e experiência profissional relevante. É que ser filho de alguém, ou frequentar o Largo do Rato ou a São Caetano à Lapa suplanta todos os outros métodos.

Será então que podíamos fazer estes cortes de uma maneira mais eficiente e transparente? Sim, claro que sim. Mas não era a mesma coisa. E não seria também Portugal.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Portugal não é a Irlanda

Quando cada vez mais se vai ouvindo que Portugal não é a Irlanda, da parte que me toca só tenho que concordar. E apresentando uma perspectiva diferente, gostaria de abordar essas diferenças baseadas nas características culturais de cada país. Há cerca de 30 anos houve um investigador que estudou a forma como os trabalhadores de uma mesma multinacional norte-americana espalhada por inúmeros países no mundo têm características diferentes consoante a sua cultura.
Acho que a tabela é suficientemente auto-explicativa, mas em todo o caso faço uma pequena explicação sobre cada um dos pontos em análise.

1-  Aversão à incerteza: reflecte o modo como as pessoas estão confortáveis com situações em que é difícil prever o futuro. Quanto menor este valor, menos avessas à incerteza são;
2-  Masculinidade/Feminilidade: segundo o autor, uma cultura masculina assenta predominantemente em valores que incentivam a independência, agressividade, domínio e força física. Por outro lado, uma cultura feminina descreve uma sociedade que vê com bons olhos valores como interdependência, compaixão, empatia e abertura emocional;
3-  Individualismo/Colectivismo: é a dimensão que reflecte as tendências culturais que enfatizam mais a importância de satisfazer as suas necessidade pessoais, ou em alternativa aqueles onde o mais importante é a satisfação das necessidades do grupo;
4-   Nível de Formalidade: traduz a dimensão sobre até que ponto os membros de uma sociedade aceita diferenças no poder e no status entre eles;

Cada pessoa que faça a sua análise desta tabela. Mas é indesmentível que também nesta perspectiva Portugal é muito diferente da Irlanda. Aliás, dentro desta amostra, verifica-se que pelo menos em 1980 nós estávamos bem mais próximos de Espanha, Grécia….Chile. E conhecendo a evolução da sociedade portuguesa nos últimos 30 anos, não vislumbro que esta situação se tenha alterado de forma visível.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os malefícios do optimismo

Há já alguns meses descobri uma interessante abordagem sobre os perigos do excesso de Optimismo. Para quem esteja interessado, o link da apresentação intitulada “Smile or Die” está aqui. Tomando a perspectiva dos Estados Unidos, a autora pergunta-se pois sobre qual o mal de pensar que está tudo óptimo e que se pode mudar o mundo com o nosso pensamento. Um dos males que isto traz é a ilusão e o alheamento da realidade. E mais, torna-se um ambiente e uma sociedade que penaliza quem pensa e alerta para os problemas potenciais. Uma das alternativas que ela aponta é pois….Realismo. Tentar perceber o que de facto está a acontecer e ver realmente o que se pode fazer a esse respeito.   

Transpondo de certa forma para a realidade portuguesa este raciocínio, o que assistimos nós? Vemos um governante que na melhor das hipóteses parece ter um patologicamente elevado nível de optimismo (para mim passa mesmo por problemas psicológicos de negação da realidade e dupla personalidade). O mais alto representante da nação também alinha pela mesma bitola, se bem que num estilo diferente e um pouco mais moderado. E verificámos há um ano atrás que uma dirigente partidária que fez um discurso mais realista (e que cujas previsões infeliz mas previsivelmente se concretizaram) foi achincalhada e acusada de pessimista inveterada.

É este o país que temos. Uns a dizerem que estamos bem e que não precisamos de ajuda nenhuma. Outros dizem que temos só de fazer bem os trabalhos de casa. Mas objectivamente o que se assiste é que os principais “responsáveis” se mostram de forma inexorável uns completos incapazes para fazerem o que deve ser feito a bem de Portugal. Mas alguém com raciocínio crítico pode acreditar que os responsáveis pelas nossas finanças irão atingir de forma adequada os objectivos orçamentais a que estamos sujeitos? Se mesmo ontem um membro do Governo declarava com regozijo no Parlamento que a Despesa Pública segue a desacelerar o seu ritmo de crescimento. Lembra aqueles alunos que chumbo após chumbo se vão justificar aos pais dizendo: “sim pai, reprovei, mas as minhas notas têm vindo a subir paulatinamente…”.

Temos um Ministro das Finanças que diz uma coisa e o seu oposto em intervalos de tempo cada vez mais curtos (e com consequências gravíssimas em todas elas). Um Primeiro-Ministro que me abstenho de adjectivar a sua competência e resultados. E um Presidente da República que se entretém a tentar explicar de forma falaciosa ao Obama (e por inerência a todos nós) que Portugal está em melhor situação que a Irlanda (focando-se no curto prazo e esquecendo o quão pior está Portugal no médio e longo prazo). É crível acreditar que o futuro irá mudar para melhor com estas pessoas cujo passado e resultados falam por si? É que há uma coisa que nós humanos (e também os “mercados”) valorizam muito nas relações: confiança! É tão simples como a história do pastor e do lobo: tanta vez mentiu, que quando disse a verdade ninguém acreditou. A minha dúvida é pois como classificar quem acredita que estes “responsáveis” vão conseguir/querer reduzir a despesa pública e implementar reformas que tenham impacto positivo no nosso crescimento potencial a médio prazo. Optimismo ignorante talvez…..      

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sá Carneiro, o D. Sebastião do PSD

Fará no próximo dia 4 de Dezembro 30 anos que faleceu Francisco Sá Carneiro. Fundador e um dos ideólogos do PPD/PSD, Sá Carneiro tem sido evocado em nome da Social-democracia, valor que o PSD alega ser detentor e fiel reprodutor.
No entanto, o PSD vive também aprisionado à memória do seu herói. Não é raro ouvir os sociais-democratas a falar em memória desta personalidade e dos seus planos para Portugal. Quando há eleições para presidente do PSD, falar no Dr. Sá Carneiro funciona no PSD como uma espécie de alavanca eleitoral a que os militantes aderem sem vacilar. Nos congressos do PSD temos o mesmo cenário em repetidas intervenções, sempre muito ovacionadas. Sá Carneiro para aqui, Sá Carneiro para ali! E palmas ao orador!
Mais surpreendente ainda é a evocação do Dr. Sá Carneiro em alguns fóruns da Juventude Social Democrata. Dado que já passaram 30 anos desde o trágico “acidente” de aviação, nenhum dos “jotas” conheceu em vida a figura nem as capacidades do seu herói mas, mesmo assim, não é raro que o enunciem em prol da sua carreira partidária e, às vezes mas nem sempre, também politica.
Sá Carneiro consegue, após 30 anos, ser ainda o factor de união do partido, a figura em torno da qual os Sociais-democratas se unem. Diria mais, a única figura de união no PSD. Ter falecido em circunstâncias trágicas tornou Sá Carneiro um ícone que aprisiona o partido às suas características politicas. Ninguém sabe o que teria acontecido se Sá Carneiro não tivesse falecido, como ninguém sabe o que seria de Portugal se D. Sebastião não tivesse desaparecido na batalha de Alcácer Quibir. Mas o partido, com Sá Carneiro e o país com D. Sebastião, têm de soltar as amarras que os prendem a uma memória, uma esperança e a um desejo mas que nunca se tornarão realidades.
O país evoluiu, os desafios são outros, as mentalidades mudaram e os jovens só conhecem Sá Carneiro pela história, pelos discursos e mensagens que o invocam. Sá Carneiro deixará de ser o elixir milagroso que os líderes do PSD utilizam para galvanizar os militantes à medida que a geração de 80 (que não o conheceu) for ganhando peso na sociedade.
O PSD necessita de cortar esse cordão umbilical que, passados 30 anos, ainda tem. Não digo que tem de esquecer um dos seus fundadores mas evocá-lo, só por si, não resolve os problemas. Falar no seu nome deixará de servir para ganhar eleições e será até sinónimo de alguém que ficou refém do passado.
Portugal não pode viver ancorado no sebastianismo e a bem do país, o PSD devia também dar o exemplo e descolar das amarras de uma política do passado e de um líder que pode ter sido o expoente máximo da social-democracia mas que, infelizmente, não pode ajudar para resolver os problemas do presente nem definir a estratégia do futuro.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sugestões para diminuição do déficit público


O Dinamizar Portugal entende que o Estado tal como existe não é sustentável. Para modernizar o país e fomentar a mudança de mentalidades é necessário dar o exemplo e implementar um conjunto de medidas difíceis mas justas e urgentes.
Assim, e de forma sumária, pretendemos não apenas indicar os problemas mas sobretudo apresentar soluções para preparar o país para um futuro mais competitivo e equilibrado socialmente. E, porque sabemos quão difícil é aceitar certas mudanças sem bons exemplos vindos de cima, repartimos as medidas entre aquelas que tem um âmbito global e aquelas com uma componente mais moralizadora para a sociedade.
Sem um processo de mudança que comece pelo topo, quaisquer medidas drásticas estão condenadas ao insucesso.

MEDIDAS URGENTES DE REDUCAO DE DESPESA (com impacto financeiro):

- Proibir acumulação de reformas e proibir reformados de trabalhar para serviços públicos
- Impedir reformados com mais de 2 salários mínimos de trabalharem por conta de outrem
- Recalcular as reformas superiores a 1,5 salários mínimos de modo a serem baseadas na média dos salários auferidos (e não apenas nos últimos 5 anos), aplicável a todos os pensionistas
- Acabar com rendimento mínimo nos moldes em que existe (quem recebe o rendimento mínimo deverá efectuar trabalho social ou outro dentro da sua área de competência);
- Terminar com as progressões automáticas nas carreiras públicas, sendo a progressão baseada no incremento de tarefas e responsabilidade, e numa efectiva e seria avaliação de mérito profissional
- Proibir PPPs nos moldes em que o único risco dos investidores é o de falência do Estado
- Reduzir em 2 anos o número de fundações, institutos e afins em 50%, e custos em 30%
- Limitar o endividamento das autarquias a 50% da sua taxa de esforço
- Reduzir em 25% o número de Freguesias e respectivos custos;
- Criar estruturas conjuntas de apoio (tipo backoffice) a vários Ministérios

MEDIDAS MORALIZADORAS DE TOPO (para dar o exemplo):

- Terminar com a reforma dos políticos aos 12 anos de mandato
- Reduzir o número de deputados na Assembleia da República para 149
- Orçamento de base zero para Presidência da Republica, Assembleia da Republica, Gabinete do Primeiro Ministro e Gabinetes Ministeriais
- Apresentação trimestral pública detalhada da execução orçamental das entidades supra citadas
- Redução no número de Ministérios e reduzir em 30% os custos com Assessores, Secretárias e Motoristas
- Reduzir em 75% o número de contratações politicas, promovendo um maior profissionalismo na Administração Pública
 - Extinção de Governos Civis
- Exceptuando PR, PM, Presidente da Assembleia da Republica e Ministros, todos os automóveis estatais com um custo inferior a 30.000 Eur, preferencialmente montados em Portugal (Sharan, Berlingo, Partner), e com período de vida mínimo de 6 anos
- Limitar os vencimentos da função pública a 100% do ordenado do Presidente da República
- Reduzir substancialmente as consultorias pagas pelo Estado a entidades privadas, utilizando estudos dos técnicos que tem no seu quadro de pessoal